Monica Yanakiew
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Buenos Aires – A eleição do novo papa fez história e surpreendeu a todos, especialmente aos argentinos. O arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, foi favorito no conclave de 2005, que acabou elegendo o alemão Joseph Ratzinger. Ninguém achava que, oito anos depois, Bergoglio substituiria Ratzinger, que renunciou em meio a denúncias de corrupção e pedofilia. Bergoglio é o primeiro jesuíta e o primeiro latino-americano que vai comandar 1,2 bilhão de católicos.
Apesar de Bergoglio ser um dos cotados, desta vez ninguém arriscou. Pesava, acima de tudo, a idade: ele era oito anos mais velho que em 2005, quando o Vaticano optou por um papa que acabou renunciando ao cargo, alegando a idade avançada. Mal o Vaticano anunciou o nome dele, em latim, os argentinos foram à Catedral de Buenos Aires, no centro da capital.
Algumas pessoas choravam sem parar. Outras dançavam com a bandeira argentina, ou rezavam, levantando os rosários. “Sinto tanto orgulho que não sei como me expressar”, disse a contadora Ana Maria Lopez. Ela foi à catedral de Buenos Aires assim que ouviu o nome de Bergoglio na televisão. O arcebispo de Buenos Aires, que virou papa, é conhecido por muitos – em bairros ricos e nas favelas, em igrejas e sinagogas.
“Ele vivia do jeito que pregava: andava de ônibus e de metrô. Já cruzei com ele na favela Villa 31, onde moro, mais de uma vez. Não dava muita bola porque não pensava que ia virar papa ”, disse à Agência Brasil o eletricista Barnabas Lopez. “A escolha do nome é simbólica”, lembrou Ana Maria Gonzalez. “Francisco é o santo dos pobres, que denunciou a opulência do Vaticano e foi perseguido por causa disso. Espero que o novo papa Francisco faça uma limpeza na Igreja.
Bergoglio tem fiéis na comunidade cristã (92% dos argentinos são católicos) e na comunidade judaica (a maior da América Latina). No ano passado, participou de uma cerimônia interreligiosa em uma sinagoga, comemorando o Natal e a Hanukkah (festa judaica, também conhecida como Festival das Luzes). Estavam presentes também representantes de religiões afro-americanas, como a umbanda.
Na Argentina, as opiniões estão divididas. Pesam sobre Bergoglio denúncias de envolvimento no sequestro de dois padres jesuítas, durante a ditadura argentina (1976-1983). Ele teria retirado a proteção eclesiástica. Bergoglio nunca se manifestou sobre o tema até recentemente, quando negou qualquer participação.
A presidenta Cristina Kirchner enviou carta ao novo papa, felicitando-o pela eleição. Em discurso, ela pediu que ele interfira para convencer as grandes potências a usar a negociação como meio para resolver as diferenças políticas. Cristina Kirchner disse também que irá à posse do novo papa. No passado, a presidenta e Bergoglio manifestaram posições totalmente opostas sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo. Ela foi a favor e ele contra.
Edição: Graça Adjuto
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