Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O desejo expressado pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, de transformar o prédio do antigo Museu do Índio, ao lado do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, em um futuro Museu Olímpico é polêmico e pode esbarrar na Justiça. Duas ações movidas pelo Ministério Público da União (DPU) tramitam em duas varas de Justiça, pedindo a permanência dos índios no local e a destinação do imóvel para uso relativo a assuntos indígenas. A advertência é do defensor público da União André Ordacgy, que concorda com a construção de um Museu Olímpico, mas em outro local.
“A defensoria viu como míope esse tipo de iniciativa do governo do estado. Aquele prédio histórico tem uma relação visceral com os indígenas. Foi ali a sede do [extinto] Serviço de Proteção ao Índio, cujo presidente era o marechal [Cândido] Rondon. E o primeiro diretor do Museu do Índio foi [o antropólogo] Darcy Ribeiro. Mas é importante dizer que, em nenhum momento, a DPU é contrária à ideia de se fazer um Museu Olímpico”, disse Ordacgy, que sugere a transformação do antigo prédio em um centro cultural ou uma embaixada indígena.
A posição é diferente da manifestada pelo presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), José do Nascimento Júnior, que apoia a destinação do imóvel para abrigar o patrimônio olímpico nacional. “Acho fundamental que se tenha um museu olímpico. Todas as cidades que sediaram as Olimpíadas têm museu olímpico exatamente para trabalhar o legado e a memória do esporte. O importante é que ali, apesar de toda a discussão, vai voltar a ser museu. Nós já temos um Museu do Índio no Rio de Janeiro, que fica em Botafogo. E o próprio Museu Nacional da Quinta da Boa Vista tem uma dos maiores acervos indígenas do país”, declarou o presidente do Ibram.
O historiador Milton Teixeira discorda e defende a preservação do imóvel para o fim original. “Eu sou a favor que aquele prédio seja reocupado pelo Museu do Índio. Pois o Museu do Índio em Botafogo está superlotado. Pode-se dividir o acervo e fazer uma sucursal do museu sem problema algum, como existe em vários lugares do mundo. Aquele prédio é pequeno para um Museu Olímpico”, disse.
A construção de um museu olímpico tem apoio de atletas que conquistaram medalhas em Jogos Olímpicos, mas eles sugerem que seja construído em outras regiões da cidade, com um imóvel projetado especificamente para a finalidade.
“Vivemos um momento olímpico no Brasil. Começar com um museu é excelente, mas depois temos que encher ele com história. Eu preferia que fosse construído na região portuária, que está sendo revitalizada”, sugeriu o velejador Marcelo Ferreira, campeão em 1996 (Atlanta) e 2004 (Atenas) e medalha de bronze em 2000 (Sydney), na classe Star, ao lado de Torben Grael.
Opinião semelhante tem o campeão olímpico de vôlei Antônio Carlos Gouveia, o Carlão, capitão da equipe que garantiu ouro ao país em 1992 (Barcelona). “É importante termos um Museu Olímpico, para servir de referência e lembrar dos atletas que brilharam pelo esporte nacional. O museu terá tudo a ver com a cidade do Rio e com as coisas que estão acontecendo aqui. Temos muito espaço na cidade para construir o Museu Olímpico, como na Barra da Tijuca, por exemplo. Para representar todos os nossos heróis olímpicos, medalhistas e atletas de renome, sem dúvida que precisaremos de um espaço importante”, destacou Carlão.
Para os índios que ocupam o imóvel, sua permanência é uma questão espiritual. Muito mais do que um prédio, eles consideram o prédio ao lado do Maracanã como umo local sagrado onde estiveram seus antepassados. “Será que a cultura indígena não faz parte do país? Este prédio se tornou um símbolo da nossa história. Todo o registro da cultura indígena passou por este espaço. A discussão da criação do Parque do Xingu foi feita aqui dentro. Este prédio é a memória do nosso povo”, explicou Afonso Apurinã, que juntamente com índios de outras etnias ocupa o imóvel desde 2007, chamado de Aldeia Maracanã.
O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) informou, por meio de nota, que tem um grande acervo de objetos relativos ao movimento olímpico brasileiro e internacional, somando cerca de 2 mil peças (tochas olímpicas, medalhas, selos, uniformes, imagens, entre outros itens). Além disso, uma biblioteca com cerca de 16 mil livros.
“Ainda não há prazos nem orçamento para a inauguração do Museu Olímpico Brasileiro. O cronograma depende das obras de complementação do projeto de modernização do complexo do Maracanã, que será desenvolvido por investidores privados. O COB aguarda a definição da empresa vencedora do processo de licitação do Maracanã para fazer, em conjunto com a empresa, um estudo sobre o planejamento do futuro Museu Olímpico”, diz o COB.
Perguntado se o comitê fazia questão de que o futuro museu fosse localizado no imóvel hoje ocupado pelos índios, a assessoria informou que o COB não se pronunciaria sobre o assunto.
Edição: Aécio Amado
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