Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Parentes e amigos de quatro mulheres, militantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que desapareceram durante a ditadura militar, prestaram depoimento hoje (7) na audiência pública feita pela Comissão da Verdade de São Paulo. Helenira Rezende de Souza Nazareth, Luisa Augusta Garlippe, Maria Lucia Petit da Silva e Suely Yuniko Kanayama sumiram na Guerrilha do Araguaia, que ocorreu no sul do Pará, na década de 1970.
Laura Petit, irmã de Maria Lucia, pediu mais rigor na apuração do que realmente ocorreu na região do Araguaia. “Infelizmente, decorridos 40 anos do acontecimento desses fatos, a gente ainda não teve todos os crimes esclarecidos”, disse. Segundo ela, a punição dos responsáveis, conforme determinou a Corte Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos (OEA), seria apenas um dos desejos dos parentes das vítimas da ditadura.
Laura ressaltou que os acusados dos crimes durante o regime militar são notoriamente conhecidos e aparecem até mesmo em livros. “Tudo é conhecido, tudo é sabido. A gente fica aguardando que se estabeleça a verdade. Chega de mentira, chega de ocultação”, declarou.
Ela cobrou das autoridades um empenho maior na localização dos restos mortais das pessoas desaparecidas. “A busca dos desaparecidos tem sido um ônus para os parentes. A Lei 9.140/1995, [que reconhece como mortos os desaparecidos da ditadura], diz que a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos só vai investigar e buscar desde que surjam novas provas. Então, isso cabe às famílias. Parece ironia, porque os parentes são os que menos têm essas provas. Quem desapareceu [com os corpos] foi o Estado brasileiro”, disse.
Criméia Almeida participou da Guerrilha do Araguaia e, em 1972, foi torturada, mesmo grávida de sete meses. Ela participou das recentes buscas do Grupo de Trabalho Araguaia (GTA) para localizar restos mortais de desaparecidos da guerrilha, nas cidades de Xambioá (TO) e São Geraldo do Araguaia (PA).
“Nas buscas do GTA, os moradores disseram que, depois do massacre, em 1975 ou 1976, houve uma operação limpeza”, informou Crimeia. “Isso realmente existiu, porque nós encontramos uma dessas sepulturas que tinha restos de ossos, mas não tinha ossos longos. Não tinha fêmur, não tinha crânio, e tinha projéteis de arma militar”, completou.
Como forma de facilitar a busca pelos restos mortais, Criméia pediu à comissão a formalização de um pedido para que arquivos das Forças Armadas sejam abertos. Segundo ela, documentos da Agência Central (ACE) do Serviço Nacional de Informações (SNI), encontrados nas buscas feitas no GTA, trazem uma relação de pessoas que participaram da Guerrilha do Araguaia. Esses papéis, segundo ela, servem de esperança para que se descubra o verdadeiro paradeiro dos guerrilheiros mortos pela ditadura.
Edição: Aécio Amado
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