Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Os paulistanos e turistas que visitam a capital podem conhecer o trabalho do artista e ativista político chinês Ai Weiwei, na mostra Interlacing, em cartaz até o dia 14 de abril no Museu da Imagem e do Som (MIS). É a primeira vez que os vídeos e fotografias de Weiwei são expostos fora da Europa.
O título da exposição faz refêrencia ao entrelaçamento que existe entre o trabalho e a vida do artista. Essa mistura aparece mais claramente nos diversos autorretratos que fazem parte da mostra. São fotos de Weiwei em situações cotidianas, fazendo caretas e ao lado de amigos. Em uma sequência de três fotos chamada Derrubando um Vaso da Dinastia Han, o artista deixa cair o objeto fabricado no período entre 206 antes de Cristo e 220 depois de Cristo. “Derrubando esse vaso, ele faz uma analogia a como o governo trata e lida com o antigo, no sentido de não preservar”, explica a diretora de Arte e Produção do MIS, Carol Nogueira.
As críticas ao governo fazem com que Weiwei, um dos mais importantes artistas contemporâneos vivos, sofra perseguições na China. Em 2011 ele passou 81 dias na prisão, após ter seu blog proibido.
A repressão, porém, não impediu ações como a documentação de prédios históricos e outras construções de valor social e cultural que foram demolidas arbitrariamente para dar espaço para novos empreendimentos. Um painel com essas fotos pode ser visto na exposição que está no MIS. “O progresso é muito presente no trabalho dele, como nessa série Paisagens Provisórias”, destaca Carol sobre as imagens.
O ativismo também aparece na performance Fairy Tale (Conto de Fadas), em que Ai Weiwei levou 1.001 chineses de diferentes idades e formações para participar da conceituada mostra de arte Documenta, na Alemanha. Os retratos de alguns dos contemplados com o intercâmbio cultural podem ser vistos na exposição.
Um pouco da tradição oriental foi incorporada à versão brasileira da exposição: o visitante é convidado a tirar os sapatos. “É uma referência ao hábito oriental de deixar sapato do lado de fora. Com esse gesto deixam-se de fora as impurezas e abre-se para o novo”, conta a diretora.
Apesar da decisão ser prioritariamente estética, para manter o chão da mostra totalmente branco, a ideia é ainda uma forma de deslocar o observador, outra marca de Weiwei. “Em uma cidade como São Paulo, você não tem muito o hábito de ficar descalço. Para algumas pessoas é extremamente desconfortável. Para outras é muito confortável. De qualquer maneira o público muda de lugar”, diz Carol Nogueira.
Edição: Juliana Andrade
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