Daniel Mello e Flávia Albuquerque*
Repórteres da Agência Brasil
São Paulo – O adolescente de 17 anos que se declarou autor do disparo do sinalizador que matou um torcedor boliviano prestou depoimento hoje (25) na Vara da Infância e da Juventude de Guarulhos (SP). O sinalizador atingiu Kevin Douglas Beltrán Espada, de 14 anos, no Estádio Jesús Bermudez, na cidade de Oruro, onde o adolescente assistia ao jogo entre o San José, do qual era torcedor, e o Corinthians pela Copa Libertadores da América, na última quarta-feira (20).
Por cerca de duas horas, o jovem conversou, acompanhado do advogado, com o promotor Gabriel Rodrigues Alves. O garoto deixou o fórum no carro dirigido pelo advogado. Ele estava sentado no banco do passageiro, uma mulher estava no banco de trás. Por ser menor de idade, o processo corre em segredo de Justiça.
Em entrevista ontem (24) ao programa Fantástico, da TV Globo, o adolescente afirmou ser o autor do disparo. Um grupo de 12 corintianos estão detidos em Oruro, acusados de serem os responsáveis e cúmplices na morte do boliviano.
Segundo o advogado especialista em direito do torcedor, Ricardo Cabezon, consultado pela Agência Brasil, quando um menor de idade assume a culpa por um ato ilícito no Brasil, é preciso investigação antes de considerar a confissão. “Antes disso, é preciso conduzir uma investigação porque é comum o menor querer encobrir um maior [de idade]. O que já deveria ter acontecido aqui é a abertura de uma investigação a parte para apurar diversos fatores”.
Na avaliação de Cabezon, é díficil prever quando os 12 torcedores presos na Bolívia poderão ser liberados, devido às diferenças de legislação entre Brasil e Bolívia. O advogado prevê que o processo deve durar mais tempo na Bolívia. “O que dura três meses aqui [Brasil], lá [Bolívia] pode durar seis. O pressuposto para a prisão em flagrante dos torcedores foi a verificação de quem estava perto da região e os vestígios de pólvora nas mãos”, disse, acrescentando que a Federação Internacional de Futebol (Fifa) proíbe a entrada de fogos de artifício nos estádios.
O embaixador do Brasil na Bolívia, Macel Biato, colocou-se à disposição para ajudar os torcedores detidos, na cidade de Oruro, no Leste do território boliviano. Biato foi até a prisão na qual estão os torcedores e conversou com eles. Do grupo detido, dois são apontados como os responsáveis pelo lançamento de um sinalizador.
Diplomatas que acompanham o caso disseram que, não há, por enquanto, indicações sobre a eventual libertação dos torcedores. O Ministério das Relações Exteriores informou, por meio da assessoria, que colabora com os torcedores prestando apoio jurídico e administrativo. No entanto, o Itamaraty diz não ter detalhes sobre os desdobramentos das investigações.
O caso gerou reações de vários setores do governo boliviano. O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse ter ficado “chocado” com o ocorrido no estádio em Oruro. Autoridades bolivianas cobraram mais rigor na punição contra o time do Corinthians.
* Colaborou Renata Giraldi, de Brasília
Edição: Carolina Pimentel//Texto atualizado às 22h09 para esclarecimento de informação
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