Camila Maciel
Enviada especial
Florianópolis (SC) - O primeiro ataque registrado na pequena cidade de Ilhota (SC), a 118 quilômetros da capital catarinense, não parece ter mudado a rotina dos cerca de 13 mil moradores que moram no município localizado no Baixo Vale do Itajaí. Na madrugada de hoje (5), três ônibus escolares que estavam no pátio da prefeitura foram incendiados. Segundo relato de moradores entrevistados pela Agência Brasil, apesar de estarem preocupados, as atividades da cidade, que é conhecida pelo comércio de moda íntima e praia, não sofreram interferências.
“Eu moro distante da cidade e inclusive peguei ônibus hoje, mas não senti medo nem nada. A gente acha que isso pode ser só vandalismo, mas aí é a polícia que tem que ver. A cidade é sossegada. É difícil acontecer algo aqui. Fui no banco, em uma lojinha e ninguém sequer comentou”, disse a pensionista Mafalda Hoffman, 64 anos, há 18 na cidade.
Com essa ocorrência, são 54 ataques no estado desde a última quarta-feira (30). Entre a noite de terça-feira (4) e a madrugada de hoje, foram sete atentados em sete municípios diferentes.
A vendedora Mariclei Fontoura, 26 anos, trabalha em uma loja de roupas íntimas e só ficou sabendo do incêndio quando foi a Itajaí, cidade vizinha. “Aqui não pega a TV local, então só soube porque tive que ir lá. Ninguém comentou”, disse. Ela disse, no entanto, que estava informada dos outros ataques em municípios próximos e ficou preocupada que o mesmo pudesse acontecer em Ilhota. “Qualquer coisa aqui preocupa, porque a gente depende de policiamento de outras cidades. Pode ser pequena, mas aqui tem muito comércio e vem muita gente de fora”.
A série de ataques em Santa Catarina, por outro lado, preocupava o frentista José Lourenço, 61 anos, mesmo antes do atentado de hoje na cidade. “A gente tinha conhecimento do que estava acontecendo e, inclusive, nos proibiram de vender gasolina em garrafa PET. Muita gente comprava para usar na lavoura. Fica difícil saber quem é certo ou errado”, disse.
De acordo com o delegado Egídio Ferrari, da comarca de Gaspar, que é responsável pelas investigações, esse tipo de garrafa foi utilizada para pôr fogo nos veículos da prefeitura de Ilhota. Os ônibus ficam estacionados em um pátio descampado próximo à sede do governo municipal. Ferrari saiu em diligência na tarde de hoje para identificar um suspeito apontado por moradores. Não foram passadas mais informações.
O comerciante Gerson Clasen, 46 anos, também lamentou o acontecimento, especialmente por se tratarem de ônibus escolares. “As aulas vão começar e os maiores prejudicados são as crianças”, disse. Ele tem receio de que as vendas na sua farmácia sejam afetadas. “Por enquanto está normal, mas se a coisa aumenta e se espalha, as pessoas ficam sem querer vir pra cá”, disse.
Em Itajaí, no litoral norte do estado, também foram registrados ataques durante a madrugada. De acordo com a Polícia Militar, um carro, modelo Fusca, foi incendiado. Próximo ao local, o depósito de uma oficina de caminhões também pegou fogo. A ocorrência, no entanto, não foi contabilizada como ataque pela polícia, pois os motivos do incêndio podem ter sido acidentais.
Para um dos proprietários da oficina, Fernando Tavares Maciel, 36 anos, trata-se de um incêndio criminoso, pois não havia instalações elétricas no local que pudessem provocar as chamas. “Era um depósito. Aquela parte foi isolada, nem luz tinha, justamente porque a gente guardava tintas, massa para pintura de carro. A gente teve esse cuidado”, disse. Ele acredita que a proximidade com o local onde o fusca foi incendiado reforçam a tese de crime. “Agora a gente fica com mais medo disso tudo que está acontecendo aqui”.
Foi a quarta ocorrência em Itajaí desde o último dia 30. Dois homens foram presos em flagrante em um dos ataques no município. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina (SSP), no total, 24 pessoas foram presas ou apreendidas desde o início dos ataques criminosos, dos quais seis são adolescentes entre 13 e 17 anos.
O gerente de um posto de combustível em Itajaí, Jairo Peixer, 49 anos, avalia que a cidade continua com sua rotina. “Só percebi que as pessoas agora evitam deixar o carro na rua com medo de ele ser incendiado. O resto está normal. O posto aqui, por exemplo, funciona 24 horas”, disse. Ele lamenta o fato de a população desconhecer o motivo dos ataques. “A gente só sabe o que aconteceu, mas não sabe o porquê disso estar acontecendo”.
Os outros ataques da última madrugada foram registrados em Criciúma, Itapema, Tubarão, Chapecó e Joinville.
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Edição: Fábio Massalli
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