Brasil reduziu pela metade índice de mortalidade precoce de leucemia LPA

20/01/2013 - 14h32

Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Um estudo elaborado em rede por países em desenvolvimento e desenvolvidos mostra que, nos últimos seis anos, o Brasil, México, Chile e Uruguai conseguiram reduzir pela metade o índice de mortalidade precoce da leucemia promielocítica aguda (LPA), um tipo mais agressivo de câncer do sangue e da medula óssea.  

Para o coordenador do grupo no Brasil, Eduardo Rego, do Centro de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto (CTC-HRP), a cooperação em rede foi fundamental para o bom resultado e para a melhoria operacional nos controles de casos.

“Esse tipo de câncer é um dos mais agressivos, há elevada mortalidade nos primeiros dias após o diagnóstico, devido a manifestações hemorrágicas muito graves. Por isso, o diagnóstico mais precoce é muito importante, e o fato de conseguirmos trabalhar em consórcio permitiu que a gente fizesse o reconhecimento dessa forma de leucemia em poucas horas, o que é crucial”.

Antes da criação do consórcio, em 2006, a mortalidade no primeiro mês após o diagnóstico era acima de 30% e a sobrevida global após três anos era cerca de 50%. Em 2011, a pesquisa mostrou que a taxa de mortalidade caiu para 15% e a de sobrevida aumentou para 80%. Rego explicou que, em países da Europa como a Espanha, a mortalidade precoce fica entre 5% a 7% e a taxa de sobrevida de 90%, onde o modelo de consórcio é antigo. “Esperamos alcançá-los em breve”.

O hematologista explicou que o grupo foi criado em 2006 para que países em desenvolvimento pudessem trocar experiências e dados de seus pacientes e receber apoio de grupos de referência da Europa e dos Estados Unidos. Estudos clínicos de sucesso nos países desenvolvidos foram adaptados às peculiaridades de cada país.  

Uma das adaptações de maior êxito, segundo o estudo foi a substituição da idarrubicina, substância mais utilizada no combate à doença na Europa e de elevado custo, pela daunorrubicina, que é uma substância de menor custo e mais facilmente encontrada no mercado brasileiro. “Ela alcança os mesmo resultados. A taxa de remissão, ou seja, de cura, foi semelhante a da  idarrubicina”, garantiu o médico.

Outras sete instituições brasileiras participam do consórcio: Universidade de Campinas (Unicamp); Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo; Fundação Hemope, de Pernambuco; e as universidades federais de São Paulo, do Paraná, Rio Grande do Sul e de Minas Gerais. Além do Brasil, participam do consórcio internacional México, Chile, Uruguai, países da Europa e Estados Unidos.

O estudo foi patrocinado exclusivamente com dinheiro público e, no Brasil, o financiamento foi provido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo  (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Na última segunda-feira (14), a pesquisa foi publicada no periódico científico Blood, da Sociedade Americana de Hematologia, referência mundial na especialidade. Para o editor-chefe da revista, Bob Löwenberg, o estudo aumenta o nível de percepção sobre os problemas médicos e estimula a cooperação e trocas entre especialistas para adaptar experiência às realidades de cada país.

“Esse estudo demonstra de forma convincente – não na teoria, mas dentro da realidade do cuidado médico - que é possível implementar experiências sofisticadas de tratamento em áreas do globo menos privilegiadas tanto em relação à infraestrutura com à expertise médica”, disse o editor.

No Brasil, o desconhecimento da incidência dos subtipos da doença compromete o tratamento, porque não existem estatísticas precisas da LPA. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) previu no ano passado 4.570 novos casos em homens e 3.940 em mulheres, mas o levantamento não distingue a leucemia aguda da crônica.

Eduardo Rego diz que a estimativa é que cerca de 20% das leucemias mielóides agudas sejam do tipo LPA.  “Faltam estudos claros de base populacional que indiquem qual a incidência das leucemias mielóides agudas. Ainda temos uma carência muito grande de base de dados populacional”, explicou.

Edição: Davi Oliveira

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