Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília - O pai do aluno de uma escola particular que adotar o livro infanto juvenil Memórias de Emília, de Monteiro Lobato, vai gastar, em média, R$ 22 para comprá-lo. Pelo mesmo livro, um dos 249 títulos selecionados pelo Programa Nacional de Biblioteca da Escola, que todos os anos distribui milhares de obras literárias às escolas públicas, o governo federal paga à editora R$ 5,10. Mesmo assim, as vendas para o governo federal representam um disputado mercado, conforme diz a presidenta do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Sônia Machado Jardim.
A economia obtida em cada exemplar permite ao Fundo Nacional de Educação (FNDE) comprar e distribuir gratuitamente cerca de 140 milhões de obras didáticas, literárias e técnico-científicas para alunos de mais de 150 mil escolas da rede pública de ensino básico do país. Essa economia é obtida em função do volume de compras do governo. Só do livro citado, por exemplo, foram compradas mais de 55 mil cópias. Para efeito de comparação, o maior best-seller atual da Editora Record, da qual Sônia é vice-presidenta, vendeu cerca de 80 mil exemplares somadas as cinco edições já publicadas.
"As vendas para os governos são muito importantes para as editoras. Numa conta rápida, dá para dizer que representam cerca de 28% do faturamento da indústria do livro. Principalmente as vendas para o governo federal, cujos programas do Livro Didático e Biblioteca da Escola têm tido uma continuidade que permite nos programarmos. No âmbito dos governos estaduais, nem sempre os programas [de livros] são mantidos", comentou Sônia. Ela revelou que as editoras estão preocupadas com a redução dos valores destinados ao Biblioteca da Escola. Segundo informações do site do FNDE, enquanto em 2012 foram investidos R$ 81 milhões, para este ano ano a estimativa é de R$ 66 milhões.
"Há muitas editoras, hoje, voltada para atender a este mercado. Daí a preocupação com os números de 2013. É preciso considerar até que ponto as editoras poderão manter os preços atualmente cobrados do governo se a quantidade de cópias for sendo reduzida", concluiu Sônia. De acordo com a coordenadora-geral dos Programas do Livro do FNDE, Sônia Schawartz Coelho, a redução do valor não significa que o total de livros comprados tenha diminuído, já que pode ser fruto da negociação com as editoras.
Na outra ponta, a mãe de dois ex-estudantes da rede pública que já concluíram a faculdade - um deles frequentou a Universidade de Brasília (UnB), uma das mais concorridas do país-, a dona de casa Maria das Neves de Araújo Alves considera “importantíssimo” o benefício hoje concedido a sua neta de oito anos, Letícia de Araújo Alves, aluna de um colégio público do Distrito Federal.
"Para mim, [garantir] educação e saúde deviam ser as principais preocupações dos governos. Não sei se eles estão realmente preocupados ou se distribuem os livros e o material somente para dizer que estão fazendo algo”, disse. Para ela, o fato de a neta receber os livros didáticos “já facilita muito”. Ela defendeu o ensino público.
"Não teríamos como pagar uma escola particular, mas eu também acho que o mais importante é o interesse, a vontade [de estudar] de cada um. Meus dois filhos estudaram a vida toda em escola pública e, graças a Deus, ambos conseguiram entrar em boas faculdades".
Edição: Tereza Barbosa