Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Na capital paulista, planos urbanísticos alternativos para evitar a remoção de comunidades em decorrência das obras da Copa e das Olimpíadas estão sendo concebidos com a participação dos próprios moradores. Os comitês populares da Copa da cidade recorreram a consultorias de arquitetura e urbanismo de universidades e organizações parceiras para elaborar projetos que garantam a permanência das famílias no local.
"Uma vez que o Estado não apresenta à população o seu projeto, a gente se antecipa e constrói o nosso próprio plano, que será instrumento de negociação com o governo para mostrar que existem alternativas para a comunidade permanecer no local", defende a advogada Juliana Machado, integrante do Comitê Popular da Copa de São Paulo. As diretrizes para a urbanização da Vila da Paz, nas imediações do estádio Itaquerão, zona leste de São Paulo, foram apontadas por quem vive há pelo menos uma década na área.
A advogada explica que o projeto garante a área de proteção ao redor do córrego que existe no local e a segurança dos moradores em relação à linha de metrô. "E garante, sobretudo, a permanência das famílias em uma área que está em processo de valorização muito rápida. Lá há metrô, trem, escola, creche e hospital. É uma área já urbanizada, guarnecida de infraestrutura", enumera Juliana. Ela estima que cerca de 320 famílias da comunidade devem ser afetadas com a obra de um parque linear previsto para a área.
De acordo com a prefeitura de São Paulo, a única obra paulista inscrita na Matriz de Responsabilidade da Copa foi a linha 17 - Ouro da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), que ligará, dentre outros pontos, o aeroporto de Congonhas a Morumbi. A assessoria de imprensa da Secretaria Especial de Articulação para a Copa do Mundo de 2014 esclareceu que também existem obras o relacionadas ao evento, que não fazem da parte da matriz, a exemplo das obras viárias no entorno da arena Corinthians, em Itaquera. Essas obras, no entanto, não demandariam desapropriações, segundo o município.
Para Juliana Machado, mesmo que a obra de urbanização da Vila da Paz não esteja vinculada diretamente ao evento esportivo, a proximidade territorial com o estádio faz com que o comitê acompanhe também os projetos na área. "Entendemos que, junto com os megaeventos esportivos, virão os megaprojetos: grandes obras, de grande impacto socioambiental", disse.
A prefeitura reconhece que há interesse do poder público de urbanizar a comunidade Vila Paz. Essa proposta está inserida em perspectiva de requalificação da zona leste da cidade. A assessoria informou que, se possível, o projeto será desenvolvido até a Copa, mas os estudos referentes à área ainda estão sendo feitos e não há como adiantar detalhes da ação. O órgão reforçou que existe preocupação em manter as famílias na mesma região que em moram.
Edição: José Romildo