Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Quando chegou ao Rio de Janeiro, em 1939, Luiz Gonzaga começou a ganhar a vida tocando no bar Espanhol, na zona do baixo meretrício do Mangue, um repertório de foxtrotes, valsas, tangos e boleros, muito distante de suas raízes nordestinas. Eram os sucessos da época, consequência da invasão de música estrangeira no Brasil, em plena 2ª Guerra Mundial.
Certa noite, no bar da zona do Mangue, atendendo ao pedido de um grupo de estudantes cearenses, ele tocou músicas nordestinas: Pé de Serra, que mais tarde seria gravada com o título de Xamego, e Vira e Mexe. O sucesso foi grande e, logo depois, ele chegaria ao rádio, participando do programa de calouros de Ary Barroso.
Em 1941, gravou seu primeiro disco 78 RPM, Vira e Mexe, que ele definiu como “choro nordestino”. Somente como solista de sanfona, Gonzaga gravou cerca de 70 músicas, durante quatro anos consecutivos.
Quatro anos depois, em 1945, ele começa a parceria com Humberto Teixeira (1916-1979), poeta e compositor cearense. O encontro foi fundamental para o lançamento do músico como cantor, o que lhe daria popularidade nacional, sobretudo a partir da gravação de Asa Branca, em 1947.
Gonzaga e Humberto Teixeira chegaram à conclusão de que entre todos os ritmos do Nordeste, o baião, ainda desconhecido no Rio, seria o mais adaptável à cultura urbana que tinha, no Rio de Janeiro, a grande caixa de ressonância nacional.
Contemporâneo de Luiz Gonzaga na Rádio Nacional, o veterano radioator e apresentador Gerdal dos Santos até hoje integra os quadros da emissora. Ele foi testemunha dos primeiros anos de Gonzaga em rádio.
“O seu início foi na Rádio Clube do Brasil, no programa de Renato Murce, e depois foi para a Rádio Tamoio, que lhe ofereceu um cachê maior”, conta. Quando foi para a Nacional, Luiz Gonzaga reencontrou Renato Murce, que apresentava o programa Alma do Sertão. “E foi devido ao alcance que a Nacional tinha em todo o país que se deu a sua grande projeção”.
Gerdal recorda que ficou impressionado com a seriedade com o que o sanfoneiro encarava o trabalho na rádio. “Ele era uma pessoa muito caprichosa e muito profissional. Eu tive oportunidade de ver quando ele ia para o estúdio. Gonzaga ficava ensaiando as músicas o dia inteiro, diferentemente de todos os outros que atuavam conosco naquela época”, lembra.
Hoje (13), a Agência Brasil publica uma série de matérias que mostram a trajetória do Rei do Baião. As matérias trarão também o infográfico abaixo, com trechos de algumas das músicas de Luiz Gonzaga, canções que traduzem uma verdadeira viagem pelo país que o artista fez com sua obra.
Veja a galeria de fotos.
Edição: Tereza Barbosa
Brasil comemora o centenário do seu maior sanfoneiro
Luiz Gonzaga incluiu a música e a cultura do Nordeste no mapa da mídia
Jornalista diz que Gonzaga despertou a consciência de gerações para as questões sociais
Estudioso lembra que o sanfoneiro mapeou a cultura e a geografia nordestinas em sua música
Evita, Trumann e Dutra ouviram a sanfona do Rei do Baião
Baião chegou a fazer parte de trilhas sonoras do cinema italiano
Gonzaga enfrentou o preconceito e adotou o figurino do vaqueiro nordestino
Tropicalismo resgatou o reinado do baião nas grandes cidades, diz compositor
Maestro fala de sua convivência com o padrinho sanfoneiro
Gonzaga foi, antes de tudo, um marqueteiro, diz o afilhado
Publicação inédita lança luz sobre os primeiros anos de Gonzagão como músico profissional
CD vai mostrar gravações inéditas de Luiz Gonzaga
Feira de São Cristóvão, no Rio, faz shows e exposição para homenagear Gonzagão
Cordelista canta em versos o legado de Gonzaga para os novos artistas nordestinos