Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Enquanto negociadores de mais de 190 países estiverem decidindo sobre as metas que assumirão para evitar que a temperatura da terra se eleve ainda mais, empresários de várias partes do mundo, que participarão como observadores da 18ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP18), que começa amanhã (26), em Doha (Catar), estarão preocupados e discutirão sobre as limitações do setor para acompanhar os compromissos acertados entre os países.
Ainda que integrem o mesmo grupo na COP18, os representantes do setor privado não comungam das mesmas preocupações. Se o empresariado europeu está preocupado com o nível de ambição das metas atuais e as que terão que ser assumidas para a nova rodada de compromissos do Protocolo de Quioto, que passa a valer a partir de janeiro do ano que vem, os brasileiros estão voltados para compromissos futuros que podem impactar imediatamente em seus negócios.
Como o governo brasileiro já sinalizou que vai se comprometer com metas audaciosas de redução da emissão de gases de efeito estufa, antecipando uma posição em relação ao acordo global acordado no ano passado, conhecido como Plataforma de Durban, o setor privado no Brasil está em alerta.
"O empresariado acaba sendo um dos elemento que mais puxa a discussão para frente, porque, no final, são os empresários que têm que cumprir as metas", explicou Fernando Malta, coordenador da Câmara Temática de Clima do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds).
Para o Brasil, segundo Malta, o foco hoje é a Plataforma Durban. "Isso é preocupante para o setor empresarial, porque o Brasil já se posicionou que vai cumprir metas obrigatórias e hoje cumpre metas voluntárias. Por mais que a gente veja que a COP18 vai ter pouquíssimo avanço em relação à plataforma, porque estará voltada para o segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto, é interessante, para nós, acompanhar como serão as negociações, como serão estas metas, como será a distribuição das metas e qual foco o Brasil dará".
Para Malta, o empresariado brasileiro está consciente de que as mudanças nos padrões de produção são necessárias, mas os representantes do setor esperam que esses compromissos sejam adotados gradualmente. O governo brasileiro comprometeu-se a reduzir o percentual das emissões até 2020. Na carona da iniciativa, alguns estados adotaram suas próprias medidas. No caso de São Paulo, as metas vão além do que o setor privado considera viável para manter competitividade.
"Já que não temos um compromisso internacional ainda e o setor industrial tem participação menor que desmatamento e transporte [nas emissões], não tem porque ter uma meta tão absurda agora", criticou.
Segundo Malta, o estado paulista definiu uma meta de redução de 20% das emissões, considerando o cenário de 2005, mas ainda não mapeou como essa redução recairá sobre os diversos setores. " No último inventário de 2005, o setor industrial respondia por apenas 4% das emissões no país. Isso mudou. O desmatamento, por exemplo, diminuiu e a participação das empresas aumentou. Mas, mesmo que tenha dobrado, não chega a 10% das emissões", explicou.
De acordo com o coordenador, os empresários conseguiram negociar com o governo para que as metas nacionais, impostas ao setor produtivo, fossem calculadas de forma relativa, ou seja, variassem de acordo com o crescimento da indústria e não com uma percentagem absoluta que desconsidera o crescimento do setor.
Apesar do estado de alerta, os empresários sabem que os compromissos em torno do acordo global devem evoluir pouco na Cop18 e os avanços devem ocorrer apenas em negociações paralelas entre dois ou mais países. Assim como outros negociadores, o setor privado aposta que o foco da conferência estará voltado para a definição da segunda etapa de compromissos do Protocolo de Quioto, que começa a valer a partir de janeiro do ano que vem.
A expectativa porém é acompanhada pela cautela, já que questões como a definição do Fundo Verde e do Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (Redd) não devem avançar no mesmo ritmo, embora estejam na mesma linha de negociações.
Edição: Fábio Massalli
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