Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Em uma época em que o casamento interétnico com índios era proibido, a união entre a índia Diacuí e o sertanista Ayres da Cunha tornou-se a novela da vida real da década de 50. A população indígena, no período, era considerada dependente do Estado e, por isso, impedida de se casar com pessoas de fora das aldeias. O enredo, que teve final trágico com a morte de Diacuí durante o parto, foi acompanhado vigorosamente durante um ano pela revista O Cruzeiro.
“Os Diários Associados patrocinaram o casamento. E a revista vai acompanhar os preparativos, ela [Diacuí] sendo preparada no salão de beleza, o casamento, a lua de mel, o retorno para a aldeia”, disse a curadora da exposição As Origens do Fotojornalismo no Brasil: Um Olhar sobre O Cruzeiro (1940-1960), Helouise Costa. A mostra, que começa nesta sexta-feira (23) na capital paulista, vai reunir mais de 200 imagens da história de uma de publicação que foi precursora do fotojornalismo no país.
Durante a fase de maior difusão social da publicação, entre 1940 e 1950, o colecionismo era estimulado a partir das série de reportagens, contos e novelas lançados. Um dos assuntos abordados foi a questão do índio, por significar um empecilho para a expansão territorial do interior do Brasil. “A temática indígena estava muito em voga no período e a revista percebe o assunto como atrativo para o público, porque, até então, eram só os antropólogos e etnólogos que tinham acesso às imagens de índios”, explica a curadora.
Assim, nomes de fotógrafos como Henri Ballot e José Medeiros começaram a se destacar. “Eles [fotógrafos] vão para as aldeias e fazem fotos absolutamente espetaculares”, conta Helouise.
Junto com a inauguração do Museu de Arte de São Paulo (Masp), outro fotógrafo de O Cruzeiro, Peter Scheier, que fazia a cobertura das exposições no museu, teve importante papel na composição de um acervo sobre o local. “Através dessa documentação dá para a gente entender um pouco melhor as atividades desses museus modernos no Brasil”, disse.
Além do estudo aprofundado sobre os profissionais da fotografia já muito explorados, a mostra buscou trazer abordagens inéditas, como no caso de Luciano Carneiro. Ele trabalhou na revista como correspondente estrangeiro. Morreu em um acidente de avião aos 33 anos. “Ele teve um papel muito importante, embora ainda hoje desconhecido: ele foi correspondente na Guerra da Coréia”, disse.
A exposição será de 23 de novembro a 31 de março de 2013, no Instituo Moreira Salles, Rua Piauí, número 844, São Paulo. O horário de visitação é das 13h às 19h, de terça a sexta, e das 13h às 18h aos sábados, domingos e feriados. A mostra tem entrada gratuita e classificação etária livre.
Edição: José Romildo