Carolina Gonçalves*
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Os investimentos feitos no Semiárido nordestino minimizaram fortemente os efeitos da seca, proporcionando melhores condições aos moradores, que enfrentem uma das mais graves estiagens dos últimos 30 anos, diz Antônio Gomes Barbosa, coordenador do Programa Uma Terra e Duas Águas, da rede de organizações Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA).
“Nos últimos dez anos passamos por um processo de construção de cisternas. Hoje há quase 700 mil no Semiárido, onde as famílias podem guardar água de qualidade. Por isso, a pressão [dos efeitos da seca] é menor”, explicou.
Apesar da avaliação positiva, Barbosa reconhece que, a partir deste mês, a situação tende a ficar mais grave. As chuvas típicas dos meses de abril e maio ficaram abaixo dos níveis esperados. Pelas previsões do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a chuva pode ficar aquém do previsto na última semana de novembro. A previsão é que chova em janeiro, em algumas cidades e abaixo do volume necessário para reverter o cenário.
“A seca deve castigar a região em 2013”, avaliou Barbosa, alertando que as águas estocadas em 2011 acabaram em alguns municípios. O problema, segundo ele, não está limitado às zonas rurais. “Várias famílias abandonaram casas e roças e foram para as cidades. Parte dos animais, base econômica de muitas famílias, foi perdida. Cidades relativamente grandes são abastecidas exclusivamente por carros pipas”, contou.
Mais de 39 mil moradores de São José do Egito, no sertão pernambucano, não tem qualquer fonte de água há um mês. A população depende da água trazida de outras regiões para sobreviver e alimentar os animais.
Segundo Barbosa, o governo não se preparou para a estiagem, apesar de as organizações alertarem sobre a possibilidade de agravamento. “Agora temos que ter medidas emergenciais para garantir comida e água de qualidade para as pessoas e para os animais. Não tem outra fórmula, mas isto não tem sido feito. Muita água aque seria distribuída não chega às famílias por falta de estrutura e porque alguns governos demoram até três meses para pagar os caminhões”, disse.
Para o coordenador da ASA, o problema da seca no Semiárido “não é um problema da natureza, mas um problema político”. Barbosa defende a ampliação de investimentos em infraestrutura hídrica que possibilitariam o convívio das populações com a seca característica do Semiárido.
“É preciso construir cisternas, barragens subterrâneas, armazéns para alimentos e casas de semente. Se tivesse estrutura, a seca teria passado despercebida. Construir a infraestrutura hídrica necessária é barato. Construir 1 milhão de cisternas é garantir água para todos ao custo de um quarto do que está sendo investido na transposição do Rio São Francisco”, defendeu.
Pelas contas da rede de organizações sociais, a construção de cisternas representaria investimento de R$ 2 bilhões. Somando todas as estruturas necessárias para a região, o valor chegaria a R$ 11 bilhões, que iriam assegurar, segundo Barbosa, melhores condições para a população enfrentar a próxima estiagem.
“É valor baixo se considerar o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) que é de R$ 19 bilhões. Metade dos agricultores familiares está no Nordeste. Não se pode pensar em agricultura familiar no Semiárido apenas com custeio, precisa ter investimento”.
Mais de 10 milhões de pessoas foram afetadas pela seca deste ano, segundo levantamento do Ministério da Integração Nacional. A estiagem, apontada como a mais grave das últimas três décadas, atingiu pelo menos dez estados brasileiros. No Semiárido nordestino, 1,3 mil municípios estão em situação de emergência.
O governo anunciou investimentos de R$ 1,8 bilhão para a construção e ampliação de barragens, adutoras, sistemas de abastecimento e em outras obras para aumentar a oferta de água no Nordeste e no norte de Minas Gerais.
Os recursos serão usados para financiar 77 projetos em municípios do Semiárido que tiveram decretada situação de emergência reconhecida pela Secretaria Nacional de Defesa Civil. As obras serão indicadas pelos governos estaduais e terão prazo de um ano e meio para conclusão da primeira etapa.
* Colaborou Luana Lourenço
Edição Beto Coura