Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Os 22 cemitérios municipais de São Paulo recebem neste Finados cerca de 1,8 milhão de visitantes. A limpeza, a segurança e os acessos foram melhorados. Tudo para que os frequentadores prestem homenagem a parentes e amigos mortos. Porém, o dia a dia é muito diferente, conforme relato das pessoas que visitam e trabalham nos cemitérios.
No Cemitério de Vila Formosa, zona leste, os jardineiros relatam que as galerias dos ossários são usadas por usuários de drogas e também por travestis, que fazem programas no local. O jardineiro Valter Ferreira, 65 anos, contou que, durante a semana, o local fica deserto, facilitando a presença dessas pessoas.
De acordo com ele, o problema ocorre principalmente à noite, mas os dependentes químicos e travestis não se intimidam com a luz do dia. “Eles pedem dinheiro e mostram facas para os familiares que vêm fazer visitas”, disse. Ele reclamou da falta de policiamento no local: “Passa a Guarda Civil Metropolitana, mas não sempre”.
O cemitério tem 763.175 metros quadrados e dispõe de 80 mil sepulturas. Segundo os jardineiros, as galerias preferidas pelos usuários de drogas e travestis são as mais distantes do portal de entrada, localizado próximo de onde estão o velório e a administração.
Apesar do clima de insegurança dentro do Cemitério de Vila Formosa, as condições de conservação e limpeza são consideradas aceitáveis. Exceto algumas ruas sem asfalto e alamedas com calçamento quebrado, o local é bastante arborizado e demostra ter boa manutenção.
Outro cemitério visitado pela reportagem da Agência Brasil, o da Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte da cidade, com 27.896 metros quadrados, não recebe o mesmo zelo na limpeza e conservação. Restos de animais, alimentos e sujeira atraem moscas ao lado das sepulturas. Josefa Guilherme da Silva, aposentada, 75 anos, é vizinha do cemitério e conta que parte da sujeira é causada por grupos que fazem rituais utilizando animais mortos dentro do cemitério.
Vinda há 40 anos de Portugal, Adelaide Amorim, cabeleireira, 61 anos, costuma frequentar o cemitério para prestar as homenagens ao irmão falecido há 25 anos. Ela lembra que os cemitérios europeus são muito mais bem cuidados e, no caso do Vila Nova Cachoeirinha, a parte mais difícil é enfrentar os roubos, que não pouparam nem o túmulo do seu parente. “Roubaram a placa e o vaso”, reclamou.
Outra frequentadora, Vilma da Silva Mendes, dona de casa, 61 anos, visita o túmulo de sua mãe há 25 anos e lembra que, antigamente, a situação de descuido por lá era pior. “Antes, até cavalos entravam e destruíam tudo”, disse. Além disso, ela conta que há problemas de segurança dentro do Cemitério da Vila Nova Cachoeirinha. “A capela agora está reformada, mas já esteve cravejada de buracos de bala”, disse.
Um jardineiro, que preferiu não se identificar, trabalha no cemitério há 20 anos. Ele disse que, durante todo esse tempo, presenciou vários assaltos e testemunhou, inclusive, uma morte dentro do cemitério. “Os assaltos são frequentes e o policiamento é fraco aqui”, disse. De acordo com ele, os bandidos pulam os muros baixos do cemitério, que tem 350 mil metros quadrados, para transitar entre o local e a favela Boi Malhado, que fica ao lado.
Do lado de fora, o clima também é de insegurança. Raimundo Neto da Silva, 27 anos, moedor de cana, trabalha e mora em frente ao cemitério. Segundo ele, os assaltos em uma praça ao lado do cemitério são frequentes. “Eles roubam aqui [na praça], pulam lá para dentro [do cemitério] e lá não tem como achar mais ”, contou.
De acordo com o diretor do crematório e cemitérios municipais, Ubirajara Adriano Marques, a segurança nesses locais tem apoio da PM e Guarda Civil, que efetua rondas dentro dos cemitérios. Segundo ele, os funcionários também foram orientados a, quando perceberem algum ato ilícito, acionarem os responsáveis pelo policiamento.
Edição Beto Coura