Ivan Richard
Enviado Especial
Salvador (BA) - A disputa entre o governo e a oposição no Congresso Nacional ditará o tom da corrida pela prefeitura de Salvador, capital baiana. A avaliação é do cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Paulo Fábio Dantas.
Para ele, apesar de os candidatos soteropolitanos defenderem propostas para a melhoria da cidade, o que realmente está por trás do jogo político na capital da Bahia é a questão político-partidária.
“As diferenças de programas e propostas são imperceptíveis. Todo mundo fala o que as pesquisas apontam, o que é importante, mas o que os diferencia é a política”, disse Dantas à Agência Brasil.
De acordo com o cientista político, apesar de no início da campanha os discursos dos candidatos explorarem as questões locais, com a proximidade da eleição o debate mudou. “Há um polarização. Um candidato expressa claramente ser de um campo político pró-governo federal, enquanto outro tem o perfil da oposição nacional. As cores estão nacionalizadas”, ressaltou.
Esse debate político, em vez do programático, pode ser prejudicial para a cidade, na visão do diretor da Escola Politécnica da UFBA, Luis Edmundo Campos. Para ele, os programas dos candidatos e partidos geralmente são parecidos, mas após a eleição as prioridades não são executadas.
“O que tenho observado é que no processo eleitoral as proposta são semelhantes. Os candidatos prometem o que é fundamental, mas há uma diferença entre prometer e fazer”, analisou.
Para ele, o trânsito é hoje um dos principais problema de Salvador. E uma alternativa para aliviar o fluxo na cidade poderia ser o metrô, mas a obra se arrasta há mais de dez anos e ainda não foi implementada. “A questão do trânsito acaba deixando a qualidade de vida muito degradada. Leva-se muito mais tempo para se deslocar na cidade”, argumentou.
O crescimento da frota de veículos e a falta de planejamento são apontados pelo diretor da Escola Politécnica como os principais responsáveis pelo trânsito caótico da capital. “Temos um problema do aumento de veículos nas ruas, mas também falta infraestrutura. Há muito tempo não se investe. Falta planejamento.”
Para Campos, o estado, não apenas a prefeitura, deveria investir nas pequenas e médias cidades para tentar diminuir o êxodo das pessoas para os grandes centros, como Salvador. Segundo ele, com a falta de oportunidades nesses locais, as pessoas acabam buscando nas capitais melhores condições de vida.
De acordo com o diretor, quando esse sonho fracassa, as pessoas têm que buscar moradia em lugares mais distantes ou em zonas de risco, por exemplo. Em Salvador já há mais de 600 áreas de risco de deslizamento. “As pessoas vivem nessas áreas não por opção, mas por falta de opção”, disse.
“Essa questão da moradia é um problema de politica nacional. Não há motivação para as pessoas ficarem no campo. As pessoas não têm muito trabalho no campo e vão para a cidade. Hoje, 80%, 90% da população estão nas cidades e as cidades não suportam”, frisou Campos. “Enquanto não forem oferecidas condições de vida para mudar esse fluxo, não resolveremos o problema”, destacou.
Edição: Graça Adjuto