Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O processo de certificação praticado pelos agricultores orgânicos do estado do Rio de Janeiro começou a chamar a atenção de outros países, disse à Agência Brasil o diretor do Instituto de Agronomia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Antonio Carlos Abboud. Ele falou hoje (25) sobre o setor, durante o Seminário Diálogos para Prática do Desenvolvimento Sustentável, que o Programa de Pós-Graduação em Práticas em Desenvolvimento Sustentável da UFRRJ promoverá semanalmente no Clube de Engenharia até o final do ano.
Formada por pequenos produtores rurais, a produção fluminense de alimentos orgânicos está voltada principalmente para as hortaliças e é encontrada na região serrana do estado. Os produtores se associam em vários núcleos e têm um processo de certificação, o sistema participativo de garantia (SPG), que traz uma mensagem de associativismo. Os pequenos produtores se reúnem em associações para ganhar escala, tendo em vista que as grandes redes varejistas (supermercados) adquirem seus produtos orgânicos de entrepostos de atacado de outros estados, como São Paulo, por exemplo.
De acordo com a Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (Abio), que coordena esse sistema no Rio de Janeiro e é a entidade do setor mais antiga do país, “os SPGs caracterizam-se pelo controle social, pela participação e pela responsabilidade de todos os membros pelo cumprimento dos regulamentos da produção orgânica”. Os membros do SPG estabelecem ações coletivas de avaliação da conformidade dos fornecedores em relação à regulamentação da produção orgânica, acrescenta a entidade.
Antonio Carlos Abboud disse que, no início, as pessoas desacreditaram do SPG, por julgarem que era uma autocertificação. “Mas é um modelo que tem funcionado muito bem e tem chamado a atenção de outros países. Nós somos pioneiros nesse modelo. É bastante democrático, adaptado a pequenos produtores, que estão iniciando ou têm pouco capital”.
A vantagem do SPG, reforçou o professor da UFRRJ, é que ele aproxima o consumidor dos produtores. “Os consumidores que fazem parte desse circuito têm uma relação próxima, nas feiras, com o produtor. Cria-se aí um vínculo de confiança entre produtor e consumidor. É uma coisa sólida. Não é uma coisa fria da certificação por auditagem”. Para ele, o modelo do Rio tem um cunho mais social.
A produção orgânica do Rio de Janeiro tem muita semelhança com a de Santa Catarina, disse Abboud. Os dois estados têm características de relevo e de condição fundiária similares. Englobam pequenos produtores diversificados e, também, a policultura.
Em outros estados, o professor disse que a produção agrícola orgânica é feita por empreendimentos de grande porte, baseados em ciclos de monocultura, como a do açúcar, da uva ou da laranja, com os produtos certificados por instituições creditadas pelo Ministério da Agricultura.
Para Abboud, esses grandes empreendimentos, embora apliquem técnicas orgânicas, violam alguns princípios da agroecologia, entre os quais a biodiversidade. “Mas não ferem a legislação”. O perfil é diferente dos SPGs, embora essa seja uma forma também reconhecida pelo ministério. “Apenas, dispensa-se, nesse caso, o uso de certificadoras”.
Abboud não crê que o preço dos produtos orgânicos seja elevado. “O preço é consequência”. Ele acredita que à medida que a demanda por orgânicos aumente, a oferta também aumentará e, com isso, o preço vai cair. “Precisa desenvolver o mercado, ampliar a oferta e a demanda, e o preço vai cair”, disse.
Edição: Fábio Massalli