Brasília - Um dia após o encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres, 13 de agosto, chegou à ouvidoria mensagem de um leitor insatisfeito com a maneira com que a Agência Brasil cobriu o evento. Segundo ele, “nesta Olimpíada, após tantos linchamentos de atletas, após tantas cobranças ao país..., após o massacre que a mídia convencional fez e aconteceu, fiquei a clamar por um papel mais ativo da EBC e dos órgãos de comunicação pública. A Agência Brasil, por exemplo, tinha uma imensa oportunidade de mostrar outros ângulos, outros olhares, outras análises [e não as mesmas que a "grande mídia" mostra]. Nós assistimos atordoados, a um intenso e tendencioso bombardeio de informações negativas. O público precisa ter outras fontes de informação. Repito: é mostrar o lado que eles não mostram. Mostrar comparações que eles não mostram. Mostrar as conquistas que eles não mostram. Mostrar outros aspectos que tendenciosamente eles omitem”.
Dois dias depois, a Diretoria de Jornalismo enviou a seguinte resposta: “Fazer comunicação pública é mesmo um desafio e o enfrentamos diariamente. Essa visão do leitor sobre a cobertura das Olimpíadas é a mesma que buscamos. As sugestões já foram repassadas para os setores responsáveis para que possamos elaborar reportagens mostrando o que o resto da mídia não traz”.
No dia 17 de agosto, o leitor novamente se manifestou à ouvidoria: “Bom, desta vez a resposta foi condizente. Em outras vezes, as respostas eram sempre na defensiva, como se o leitor estivesse errado e o veículo estivesse certo e inquestionável. Ao fazermos isso [sugerir/criticar/observar], nós leitores/cidadãos não apenas dizemos o que esperamos desse órgão, como também prestamos uma consultoria gratuita. A EBC e a Agência Brasil precisam ser diferentes da mídia comum. Às vezes eu acho que o medo de ser chamado "chapa branca" ou" governista" faz com que a comunicação pública se iguale [nivelando por baixo] à pequena "grande imprensa". A EBC surgiu da demanda por informações e jornalismo que não são feitos pela mídia privada. Essa comunicação pública só faz sentido se cobrir as omissões da mídia convencional. Mas é preciso que os repórteres e editores se aprofundem mais, pesquisem mais, conheçam mais a fundo as pautas [para se livrarem da superficialidade e preguiça que dominam a mídia privada]”.
Na perspectiva de avaliar a procedência da crítica feita pelo leitor, a ouvidoria fez um levantamento de todas as matérias produzidas pela ABr, desde o início dos Jogos, em 28 de julho, até o encerramento, em 12 de agosto. Ao todo foram 49 matérias, das quais 26 trataram da divulgação dos resultados alcançados pela equipe brasileira e 23 abordaram o tema sobre diferentes aspectos, como esporte e educação, economia, segurança, entre outros [1]. Em relação ao “bombardeio de informações negativas” que o leitor apontou, nossa análise é que a abordagem da ABr foi equilibrada: registrou as derrotas, mas valorizou as conquistas, mesmo que não correspondessem a lugares no pódio. Ou seja, a ABr mostrou conquistas que a grande mídia não mostrou.
No que diz respeito ao pedido do leitor por “outros ângulos, outros olhares, outras análises”, a ABr deu alguns passos, mas deixou vastos territórios inexplorados. Uma abordagem que poderia ser mais explorada na cobertura feita pela mídia pública são as lições que os Jogos de Londres podem trazer para o Brasil nos preparativos para os Jogos de 2016, em matéria de organização e infraestrutura, sobretudo em termos dos impactos humanos. Neste caso especifico, a ABr publicou apenas seis matérias [2].
Outro ponto interessante e que poderia ter sido explorado é o fato de que, mesmo reconhecendo as mudanças na tradição olímpica, a dimensão mítica dos Jogos persiste, e o leitor só pode lamentar a falta dele na cobertura. Se há um lado positivo nisto, é a recusa de seguir a prática adotada pela grande mídia de ser conivente com a transformação dos atletas em ídolos instantâneos, cujo valor publicitário se multiplica da noite para dia, sem contar que existem histórias de heroísmo e superação que merecem ser divulgadas, inclusive, no intuito de incentivar os jovens a se dedicarem à prática das atividades desportivas. Essa abordagem seguramente está de acordo com a missão da EBC de difundir valores que promovam a cidadania. Muitas dessas histórias envolvem o esforço conjunto do atleta e seu técnico, unidos em um desafio contra inúmeras adversidades, como bem frisado no filme Carruagem de Fogo, cuja música tema foi tocada frequentemente durante os Jogos de Londres. Nas Olimpíadas 2012, os dois atletas que ganharam medalhas de ouro em competições individuais têm histórias semelhantes que mereciam ser contadas. E na história das competições olímpicas houve outros atletas brasileiros de destaques cujas histórias mereciam ser lembradas. Sendo o Brasil o país-sede das Olimpíadas de 2016, fica aqui a sugestão para que seja feita uma reflexão no momento da produção de matérias, visando a uma abordagem aprofundada e humanística do tema.
Boa leitura.
1-(agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-08-06/associacao-olimpica-britanica-defende-mais-financiamento-para-esporte-nasescolas), (agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-08-11/reino-unido-e-brasil-discutem-aumento-de-trocas-comerciais-partir-de-eventos-esportivos), (http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-08-11/simulacao-de-sequestro-no-metro-do-rio-mobiliza-bope), (a matéria sobre segurança, acima, poderia também ser classificada aqui) e (BC faz moedas comemorativas sobre a Copa; engarrafamento em Londres; tinha uma sobre doping etc.)
(http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-08-11/plano-para-olimpiadas...)
(http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-08-08/olimpiadas-no-rio-ser...)
(http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-08-03/prefeito-do-rio-diz-q...)