Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Quase 10% dos eleitores fluminenses têm mais de 69 anos. Terceiro maior colégio eleitoral do país, depois de São Paulo e Minas Gerais, o Rio de Janeiro é o estado com maior número de eleitores idosos. São Paulo e Rio Grande do Sul vem em seguida.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos quase 12 milhões de eleitores do Rio de Janeiro, cerca de 1,12 milhão têm mais de 69 anos e representam 9,3% do eleitorado fluminense. Nas eleições de 2010, o percentual de eleitores idosos era 8,8%. Na capital, o número de idosos aptos para votar em 7 de outubro representa 11,6% do eleitorado. Em 2010, o percentual era 11,1%.
O número de eleitores brasileiros com 70 anos ou mais também aumentou, passando 6,9% nas últimas eleições para 7,2%. O crescimento do número de eleitores nesta faixa etária comprova um fato da sociedade brasileira atual: queda na natalidade e aumento da expetativa de vida.
Embora o voto seja facultativo para quem está na faixa dos 70, muitos ainda fazem questão de ir às urnas. É o caso do advogado e ex-deputado Délio dos Santos, de 88 anos, morador da cidade do Rio de Janeiro. Ele já estudava direito quando votou pela primeira vez, em 1945, mas não revela o candidato escolhido, por considerar que o voto é secreto, uma “arma do cidadão”. Naquele ano, foram candidatos à Presidência da República Eurico Gaspar Dutra, Eduardo Gomes, Yeddo Fiúza e Alvaro Rolim Telles.
“Sempre votei em candidatos para qualquer cargo eletivo que se compremeteram a lutar por transformações sociais, isto é, lutar para acabar com a miséria e as desigualdades sociais”, disse Délio dos Santos. Ele lamentou não ter podido votar nas eleições passadas, por motivos de saúde, mas quer votar neste ano. E garantiu que, se houver segundo turno na capital fluminense, irá votar “nem que seja de bengala, pois. no segundo turno, o eleitorado se esclarece mais”.
Perguntado sobre as razões de ainda votar, mesmo sem ser obrigado, Santos é taxativo: “Votar não é um direito, é um dever. Além disso, não abdiquei dos meus ideias de jovem e advogado, pois participo de uma geração que lutou contra os regimes autoritários, contra o nazifacismo e contra a ditadura militar que dominou o Brasil e destituiu o presidente eleito pelo voto direto do povo.”
Délio dos Santos mostrou-se, entretanto, um pouco cético com as próximas eleições.“Em eleição municipal, infelizmente, pela falta de uma consciência coletiva, os eleitores se preocupam mais com promessas de última hora, como calçamento de rua, emprego, troca de favores. Por isso, estou convencido de que o maior problema do Brasil é a educação, e um programa de governo sério seria: primeiro, educação, depois, saúde e obras de saneamento básico.”
A escriturária aposentada Odila de Castro Alves tem a mesma opinião do ex-deputado sobre a prioridade da educação no país. Aos 94 anos, Odila, que mora em Belo Horizonte, não deixa de votar de “jeito nenhum”, pois considera o voto uma das coisas mais importantes para o bem do país. “É preciso estudo para este povo. Falta de conhecimento dá em roubo e corrupção e é isso que a gente tem que combate”, afirma Odila.
Ela e o marido, José Justianiano Alves, de 95 anos, já tem candidatos para as eleições de 7 outubro. “Honestidade e boa administração é o que eu procuro na hora de votar. Infelizmente, ainda tem muita gente que troca voto por comida ou coisa parecida.”
Para o cientista político e diretor executivo do Instituto de Pesquisas do Rio de Janeiro, Geraldo Tadeu Moreira Monteiro, além de importante em termos numéricos, o grupo dos eleitores é altamente informado e ativo na vida social, podendo influenciar na escolha de outros grupos etários. “São pessoas que, em geral, têm disponibilidade maior de tempo para leitura e busca de informações, conhecem mais a história. Então, muitas vezes, elas orientam os votos dos mais jovens.”
Edição: Nádia Franco