Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Depois de passarem a noite na calçada, parte dos moradores da Favela Sônia Ribeiro, conhecida como favela do Piolho, tentava recolher algum objeto no meio dos barracos e pertences queimados. Muitas crianças foram ajudar os pais na busca de bens que tivessem chance de recuperação.
Os moradores que aceitaram a ajuda da prefeitura foram levados para um abrigo improvisado em uma igreja próxima à comunidade. Na manhã de hoje, a Defesa Civil ainda vistoriava o local.
Localizada entre as ruas Cristóvão Pereira e Xavier Gouveia, perto da Avenida Roberto Marinho, na zona sul da capital paulista, a favela, que foi atingida por um incêndio na tarde de ontem (3), ocupa uma área de 12 mil metros quadrados, dos quais 4,5 mil metros quadrados foram atingidos pelas chamas.
Segundo informações da subprefeitura de Santo Amaro, das 595 famílias que moram na comunidade, 285 foram atingidas, o que, pelas estimativas da Defesa Civil e da subprefeitura, pode chegar a 1.140 pessoas desabrigadas. De acordo com o Corpo de Bombeiros, três pessoas ficaram feridas.
O coordenador da Defesa Civil, coronel Jair Paca de Lima, disse que o órgão ainda está distribuindo donativos às famílias desabrigadas. Além disso, foi feito o cadastro de cada uma delas para verificar quais estão inscritas em projetos habitacionais da região. “A polícia científica vai fazer a análise e a subprefeitura deve fazer a limpeza do terreno depois. Aquelas que não tiveram seus imóveis afetados devem voltar às suas casas, aquelas que tiveram [as casas afetadas] terão albergues ou abrigos à sua disposição”.
Paca de Lima ressaltou que a tragédia só não foi maior porque, no local, há pessoas orientadas para esse tipo de situação, treinadas conforme as regras do Previn, plano da prefeitura de prevenção a incêndios em favelas. No âmbito do plano, um grupo de moradores é orientado sobre como proceder em caso de incêndios. “A intensidade das chamas foi tão grande que até casas de alvenaria foram atingidas. O Previn ajudou na forma de retirar as pessoas. Hoje, temos o Previn em 121 favelas e a ideia é chegar a 150. A análise de quantas e quais deveriam ter esse plano foi feita pelo Corpo de Bombeiros, prefeitura e Defesa Civil”.
A ajudante de limpeza Valquíria Rosane dos Santos, 21 anos, contou que perdeu tudo no incêndio e que estava em casa quando as chamas começaram a atingir os barracos. Para ela, o responsável pela tragédia é a subprefeitura, que não teria tirado o lixo acumulado na favela. Acredita-se que a origem do fogo tenha sido o lixo. “Quando eu abri a porta da minha casa, o fogo já estava na parede da minha casa. Foi o tempo de pegar minha filha e sair correndo. Ela ficou na casa da minha mãe e eu estou aqui desde ontem com a roupa do corpo. Não tive como salvar nada”.
Com os cinco filhos no abrigo, a diarista Cícera Galvão, 31 anos, não estava em casa quando o fogo começou. Tanto ela quanto seu marido estavam trabalhando e os filhos estavam na escola. “Não tivemos como salvar muita coisa. Ganhamos colchões ontem à noite e meu marido está lá tentando ver o que sobrou. Estamos esperando para ver o que a prefeitura vai fazer conosco. Ninguém se manifestou ainda”. Cícera disse que o local onde morava foi invadido, por isso ela e sua família não querem voltar para a favela.
A moradora na comunidade Sidnai Santos Batista foi uma das poucas que não tiveram problemas com o incêndio. Sua casa não foi atingida porque o fogo foi barrado por uma moradia de alvenaria vizinha à dela. “Não perdi nada, mas conheço muita gente que perdeu. A causa desse incêndio foi o descaso das autoridades que não tiraram o lixão que tinha ali. Agora eles precisam nos ajudar com moradia.”
Edição: Lana Cristina