Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Na opinião de 97% dos médicos ginecologistas e obstetras do estado de São Paulo, as operadoras de planos de saúde interferem negativamente no exercício profissional, revelou a pesquisa do Datafolha encomendada pela Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp). O levantamento ouviu cerca de 5.400 médicos associados à Sogesp e constatou que os planos pressionam o trabalho dos ginecologistas e obstetras de diferentes formas, geralmente com objetivo de reduzir custos de procedimentos.
De acordo com o presidente da associação, César Eduardo Fernandes, quando esses médicos pedem exames de maior complexidade, procedimentos de alto custo ou internações hospitalares recebem uma série de questionamentos das operadoras como forma de pressão para reduzir custos. “O processo tende a ser muito burocratizado. Isso é difícil para o médico porque ele não pode fazer concessões em relação às suas convicções. Ele tem que atender às pacientes com o maior zelo, o maior cuidado”, disse.
A pesquisa não abordou quais tipos de exames e procedimentos são os mais dificultados pelas operadoras de saúde, mas César supõe que isso ocorra com os mais caros. “Não é difícil interpretar que, naturalmente, essa interferência se faz em relação a procedimentos que são os mais onerosos para as operadoras”, disse.
Outro problema apontado por 87% dos ginecologistas, segundo a pesquisa, é a ocorrência de glosa. Isso ocorre após o médico já ter feito um exame ou medida terapêutica em seu consultório, para que a paciente não precisasse retornar em nova consulta, mas o plano se recusa a fazer o pagamento posterior.
“Entendemos que o médico deve ser muito responsável com as suas atitudes, com o custo da saúde. Não pode ser leviano com os exames que ele pede, os procedimentos. Isso é absolutamente necessário para o esclarecimento diagnóstico ou terapêutico”, disse César.
César destaca, além disso, a relação desigual entre médicos e operadoras de planos de saúde. Segundo ele, os profissionais estão sendo pressionados de maneira implícita. “Isso é feito de uma forma não muito clara, pela própria operadora, com um descredenciamento ou algo assim”, diz.
Esse cenário fez com que 43% dos médicos se mostrassem pessimistas e não acreditassem no desenvolvimento e valorização da especialidade nos próximos anos. De acordo com a pesquisa, 24% deles não enxergaram perspectiva de mudança no cenário atual e 33% mostraram-se otimistas.
A pesquisa também constatou que 13% dos médicos ouvidos que atuavam em obstetrícia decidiram abandonar a especialidade. Baixos honorários e a obrigatoriedade de trabalho em período integral foram os principais motivos citados. “Na outra ponta, nós percebemos que o médico jovem tem um desinteresse cada vez maior em ser especialista em obstetrícia. No futuro, vamos ter um desabastecimento desses profissionais”, disse.
De um modo geral, apenas 15% dos médicos associados que atendem planos de saúde consideraram ótima ou boa a qualidade dos serviços oferecidos pelas operadoras de saúde. Já 45% avaliaram a qualidade dos serviços como ruim ou péssima e 40% como regular.
Edição: Fábio Massalli