Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – As usinas termelétricas com gás de xisto tendem a crescer no Brasil diante das dificuldades enfrentadas para a ampliação dos projetos hidrelétricos, avaliou hoje (29) Flávio Decat, presidente de Furnas, empresa do grupo Eletrobras. Ele abriu nesta quarta-feira seminário internacional, na sede da companhia.
O país tem reservas desse gás e, para Decat, essa é uma vertente importante para o Brasil. Segundo ele, a tendência é construir usinas térmicas “na boca” dos poços que forem abertos no Rio São Francisco, por exemplo, com a energia sendo levada aos consumidores por linhas de transmissão convencionais.
De acordo com Decat, o preço do gás de xisto caiu de US$ 3 o metro cúbico para US$ 2 o metro cúbico, nos Estados Unidos. Mas o Brasil ainda importa o produto, a preços considerados elevados, variando entre US$ 13 e US$ 14 o metro cúbico. Ele não tem dúvidas de que haverá uma década de forte exploração desse gás no Brasil, que será integrado ao gás offshore (no mar). Pelo câmbio de hoje, segundo o Banco Central (BC), o dólar está cotado a R$ 2,0427.
O presidente de Furnas disse que as dificuldades para as usinas hidrelétricas estão atingindo níveis “completamente fora de razoabilidade”. “Uma coisa é querer as compensações ambientais, que são importantes; preservar a cultura indígena e os índios, que também é importante. Outra, é usar isso como movimento ideológico, político, para impedir a construção de uma hidrelétrica, que é uma riqueza nacional, e a gente tem que pensar nisso”.
Ao tratar do tema, Decat referiu-se não só à Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, mas a todas as obras de hidrelétricas em andamento, inclusive Simplício, entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro, onde Furnas está impedida de encher o reservatório por razões que, segundo ele, “não são razoáveis”. Decat considera as ações para embargar os projetos uma “exacerbação”.
O presidente de Furnas vai a Brasília, nos próximos dias, tentar um embargo na Justiça Federal para garantir o enchimento do reservatório da Usina Hidrelétrica de Simplício, aproveitando o período de chuvas.
Para Decat, é preciso haver uma contraposição técnica aos movimentos sociais e ambientais que impedem o andamento dos projetos. “Tem que haver uma posição do lado técnico, empresarial também. Não é só do governo. Somos nós, os responsáveis, que temos que falar. E falar com consistência”, disse, embora reconheça que as usinas termelétricas a gás são mais prejudiciais ao meio ambiente do que as usinas hidrelétricas. “Eu acho que os ambientalistas vão ter que refletir um pouco sobre isso também”, disse, voltando a se referir aos problemas para a expansão dos projetos hidrelétricos em curso no Brasil.
Furnas vai participar do próximo leilão de linhas de transmissão, previsto para o final de setembro, e não descarta atuar em parceria com grupos chineses. No leilão, serão licitados lotes ligados à transmissão de energia da usina de Belo Monte. “Temos acordo com State Grid e com a Three Gorges [empresas chinesas do setor elétrico]. Estamos conversando”. Temos até a véspera do leilão para decidir.”
Edição: Lana Cristina