Marcos Chagas
Enviado especial da Agência Brasil
Rio Branco – Estudos hidrológicos feitos por técnicos da Secretaria de Meio Ambiente do Acre (Sema) em parceria com a Agência Nacional de Água (ANA) demonstram que o Rio Acre tem apresentado níveis cada vez mais extremos, tanto nas enchentes quanto nas secas. Em 2011, o rio atingiu uma lâmina d’água de 1,5 metro, a segunda pior em 40 anos. A tendência é que a seca deste ano, que vai de agosto a outubro, a situação seja ainda pior.
A assessora técnica e engenheira florestal da Sema, Vera Reis, disse que as medições do nível do rio chegaram a 2,05 metros no início da estiagem. “Até meados de setembro, a tendência é que ele continue baixando”, acrescentou.
Segundo a técnica, os estudos apontam que as “alterações extremas” do Rio Acre são causadas pelo desmatamento, por ocupações irregulares, pelas queimadas e pela expansão das estradas. No período de estiagem, o rio é abastecido por lençóis freáticos que ficam comprometidos por essas ações.
“Nesta fase temos problemas de desabastecimento fortíssimo”, ressaltou Vera Reis. “Todas essas ações predatórias, além de outras, comprometem a vazão do Rio Acre ajudando na provocação de cheias que atingem boa parte da capital acriana”, disse.
Outro problema é a pouca informação sobre o comportamento hidrológico do rio. Em 2011, por exemplo, os técnicos da Sema consideravam que não haveria estiagem forte devido o longo período de cheia do rio, com fase crítica em abril. “Em 11 de setembro, tivemos a maior seca dos últimos 40 anos”, contou Vera Reis.
Em janeiro de 2012, o alagamento atingiu 17,6 metros, enquanto que o nível médio é 7,5 metros. O estado de alerta, segundo a técnica, é dado quando o nível do rio atinge 13,5 metros, momento em que água começa a entrar e alagar casas de moradores em bairros ribeirinhos.
Para melhorar a avaliação preventiva de cheias e secas, foi montada uma Unidade de Situação na Universidade Federal do Acre. Em parceria com a ANA, a unidade deve iniciar o funcionamento a partir deste ano, estima a técnica.
“Esta unidade moderniza nossa rede de hidrometeorologia que recebe informações sobre ocorrências de chuvas, níveis do rio e quando elas atingirão as cidades”, disse Vera Reis. O monitoramento permitirá aos bombeiros e à Defesa Civil adotar medidas preventivas capazes de minimizar as consequências das enchentes.
Estão sendo tomadas também medidas de conservação e preservação do Rio Acre. Entre elas, a recuperação de nascentes e plantio de mudas frutíferas em habitações ribeirinhas. A técnica informou que já foram plantadas 3 milhões de mudas para a recuperação de matas ciliares e nascentes do rio.
A falta de saneamento básico em bairros na beira do rio, como o Taquari na capital Rio Branco, é outro desafio a ser enfrentado. Ao visitar o bairro, a reportagem da Agência Brasil constatou derramamento de esgoto não tratado nas margens do rio. Os moradores não têm água potável, nem rede de esgoto.
Dada a forte estiagem em alguns pontos, é possível atravessar a pé o rio de uma margem à outra. A dona de casa e moradora do Taquari, Maria das Dores de Santana, 67 anos, reconhece que, apesar da poluição, usa a água do rio para cozinhar.
“Às vezes, eu uso a água do rio para cozinhar. Eu trato, coloco hipoclorito e uso. Graças a Deus até hoje não deu problema de saúde”, contou a moradora, que no período das cheias foi obrigada a deixar a casa onde vive. Para beber, ela disse que a filha compra galões de água potável.
Antônio Ferreira de Oliveira, pedreiro, 35 anos, também mora no bairro. Porém, pagou cerca de R$ 400 para construir um poço, chamado de cacimbão. Ribeirinho desde que nasceu, Antônio reconhece que “antigamente” o comportamento do rio nos períodos de chuvas e de estiagem não era tão severo.
“Ninguém sabe o que está acontecendo, o clima tá muito quente, amigo”, disse Antônio. O vizinho dele, Raimundo Lima Rebouças, 67 anos, teme que seu poço fique seco em um mês por causa do agravamento da seca. Diante da falta de água, o auxiliar de portaria de uma escola pública disse que compra 500 litros do caminhão-pipa. A quantidade dá para beber, cozinhar, tomar banho e lavar roupa durante quatro ou cinco dias.
A cada compra, Raimundo Lima desembolsa R$10. Para quem tem caixa d'água com capacidade de mil litros, o custo dobra – o que movimenta uma verdadeira indústria de caminhões-pipa que vendem água nas comunidades pobres.
Edição: Carolina Pimentel