Fernando César Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Curitiba - As pessoas que procuram os serviços da Polícia Federal (PF) na superintendência estadual do órgão em Curitiba são barradas logo no portão que dá acesso ao edifício. Desde ontem (7), dezenas de policiais em greve se revezam ao longo de todo o dia em um piquete montado no local.
"Ninguém está entrando no prédio", disse o presidente do Sindicato dos Policiais Federais no Estado do Paraná (Sinpef-PR), Fernando Augusto Vicentine, em entrevista à Agência Brasil. "No caso dos passaportes, o comando de greve analisa caso a caso, liberando apenas os casos de emergência, como viagens por motivo de tratamento de saúde ou a trabalho."
Pela manhã, os policiais federais fizeram uma entrega coletiva das armas que pertencem à corporação. De acordo com o presidente do Sinpef-PR, a adesão ao movimento total entre os agentes, escrivães e papiloscopistas. Apenas os serviços essenciais, como a guarda de presos e os plantões nas delegacias, estão mantidos.
Nas fronteiras e aeroportos, os policiais revistam em todos os veículos e as bagagens. A medida tem provocado filas na fronteira com o Paraguai e atrasado parte dos voos.
No segundo dia da paralisação nacional da categoria, a reportagem da Agência Brasil acompanhou a tentativa de algumas pessoas que foram à sede da PF no Paraná para obter passaportes.
A advogada Marina Zili foi ao local solicitar os passaportes dos três filhos. "Fiquei frustrada, porque esperamos dois meses para o agendamento agora, em agosto. Telefonamos para tentar vir antes [do início da greve], mas fomos informados de que conseguiríamos os documentos", disse Marina, cuja família tem uma viagem de turismo com destino a Miami (EUA) marcada para outubro. A família foi orientada pelo comando de greve a retornar na próxima semana. Os policiais argumentam que viagens de turismo não são consideradas casos de emergência.
O empresário Ricardo Trento, com viagem a trabalho marcada para as 22h30 de hoje, não conseguiu retirar o seu passaporte porque não estava com o comprovante da passagem aérea. "Não sou contra a greve, mas vou ter que voltar ao escritório para buscar o bilhete. É um transtorno."
Os policiais federais em greve reivindicam uma reestruturação salarial e da carreira dos agentes, escrivães e papiloscopistas. O salário inicial desses três cargos é R$ 7,5 mil, o equivalente a 56,2% da remuneração dos delegados, cujo vencimento de início de carreira é R$ 13,4 mil. "Também reivindicamos mais contratações por concurso público. Apenas em Curitiba o déficit do efetivo chega a pelo menos 30%", estima Vicentine. "No Aeroporto Internacional Afonso Pena, trabalham apenas dois policiais por plantão, o que é muito pouco. E ainda há terceirização em atividades que deveriam ser exercidas por servidores públicos."
A paralisação também afeta os serviços de fiscalização de empresas de vigilância, a liberação de porte de armas e o atendimento a estrangeiros. A última greve nacional da PF ocorreu em 2004 e durou cerca de dois meses.
Os delegados federais também promovem hoje uma paralisação de 24 horas. Eles reivindicam a reposição das perdas salariais provocadas pela inflação acumulada nos últimos anos.
Edição: Talita Cavalcante