Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O governo do Rio de Janeiro pretende implantar, até 2014, cinco centros de emergência específicos para pacientes que sofrem traumas múltiplos em acidentes. O objetivo da Secretaria Estadual de Saúde é garantir um atendimento rápido e exclusivo para esses tipos de lesões que costumam exigir intervenção cirúrgica de emergência.
“Hoje, o Brasil é o quinto país no mundo em número de acidentes automobilísticos e a primeira hora após o acidente, que chamamos a hora de ouro, é o momento em que saberemos se o paciente terá condições de sobrevida ou não”, explicou o coordenador de Trauma da secretaria e responsável pela estruturação do projeto, o médico Rogério Casemiro. "Nada melhor do que ter uma equipe capacitada e treinada para prestar esse tipo de atendimento nesse primeiro momento”, completou.
Os novos centros devem custar cerca de R$ 900 milhões e vão demandar cerca de 120 profissionais. “No plantão, entre médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, a ideia é que haja 20 profissionais por dia, em cada centro, para atender, simultaneamente, a quatro pacientes com todos os recursos. Claro que se houver mais pacientes, trabalharemos com uma outra lógica para poder atender a todos”.
A primeira unidade será criada no Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo, até o fim do ano. Nela, haverá um heliponto. As demais unidades serão construídas nos hospitais Albert Schweitzer, em Realengo; Rocha Faria, em Campo Grande; Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias; e no futuro Hospital Estadual de Trauma, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
As equipes serão compostas por ortopedistas, cirurgiões geral e vascular, anestesistas e neurocirurgiões, além de cirurgiões pediátricos com formação em trauma, cirurgiões torácicos e urologistas. A forma de contratação dos profissionais ainda está sendo estudada.
A primeira equipe – 11 médicos e seis enfermeiros da Secretaria de Saúde – foi treinada durante seis semanas em universidades norte-americanas com renomada experiência nesse tipo de atendimento. Casemiro explicou que esses profissionais vêm se reunindo para adaptar os processos e protocolos usados nos Estados Unidos à realidade e à legislação brasileiras e serão multiplicadores das técnicas aprendidas. “Tivemos que buscar essa experiência fora do país, pois, no Brasil, não existe um centro específico para traumas. Fizemos um convênio com as universidades de Maryland e de Miami, que estão nos apoiando nesse projeto.”
O secretário-geral do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) e coordenador da Comissão de Saúde do órgão, Pablo Vazquez, elogiou a iniciativa e ressaltou que é fundamental a contratação de novos profissionais para que o projeto contribua efetivamente para a melhoria desse tipo de atendimento. “Nosso entendimento é que o hospital especializado é importante para ter uma capacidade melhor de resultados, mas nosso receio é que, em vez de aumentar a oferta de serviço, haja uma concentração de profissionais nesses centros e a qualidade diminua nos outros hospitais, que também têm que prestar esse tipo de atendimento”, observou.
Vazquez destacou que, nos Estados Unidos e no Canadá, onde essa estratégia é adotada, o táxi áereo funciona muito bem e não faltam médicos especializados. “No Brasil, temos déficit de neurocirurgiões. Deve haver a contratação de novos profissionais e não a transferência dos que já existem. Os próprios hospitais considerados de referência já carecem de médicos especializados”, lamentou.
O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, disse que qualquer proposta para melhorar a assistência no estado é bem-vinda, mas que, nos últimos seis anos, os projetos anunciados pelo governo ou não se concretizam e ou têm se mostrado ineficazes para resolver a crise da saúde pública no Rio. O estado obteve, recentemente, a pior colocação do Brasil em assistência do Sistema Único de Saúde (SUS), segundo o Índice de Desempenho do SUS, do Ministério da Saúde.
“O que se percebe é que o governo lança esses projetos, muito bons na teoria, como medidas de marketing político, do que propriamente para resolver o problema da saúde no estado do Rio. O governador [Sérgio Cabral] anunciou a criação de unidades de Pronto-Atendimento [UPAs], mas esses projetos não conseguiram solucionar os problemas. O que vemos são longas filas, longo tempo de espera, pacientes internados há vários dias em unidades que não permitem esse tipo de internação e a rede hospitalar abarrotada”, declarou.
Edição: Lana Cristina