Daniella Jinkings
Repórter da Agência Brasil
Belém – Viver durante duas semanas em outra realidade social, desenvolvendo atividades com comunidades carentes espalhadas pelo Brasil, é o trabalho de 380 rondonistas, entre estudantes e professores universitários, que participam como voluntários da Operação Açaí, no Pará.
Para a estudante de comunicação social do Centro Universitário Internacional de Curitiba (Uninter), Alessandra Ferreira, 31 anos, o Projeto Rondon é uma experiência que muda vidas e faz com que os universitários saiam do conforto de suas casas para se deparar com outra realidade. “Sempre vivi em um mundinho muito fechado e o que me motivou a vir trabalhar nesse projeto foi poder ampliar os horizontes. Nesses quatro dias em que a gente está na cidade, acredito que já mudei como ser humano”.
Alessandra e mais 19 estudantes estão desenvolvendo atividades no município paraense de Bonito, a cerca de 145 quilômetros da capital Belém. Eles deixaram o frio de 9 graus Celsius para enfrentar o clima quente e úmido do estado do Pará. De acordo com o professor do Uninter Jack de Castro Holmer, 27 anos, além da mudança de clima, há uma série de dificuldades, como a falta de água. “Às 19h acaba a água. São 20 pessoas para tomar banho e quando voltam das atividades, não há mais água. Por isso, a gente tem de separar a água. São três garrafas PET por pessoa para o banho da manhã”.
A Operação Açaí, que começou no último dia 6, abrange 19 municípios paraenses e conta com a participação de representantes de 38 instituições de ensino superior de nove estados e do Distrito Federal. Durante 17 dias, os universitários promovem palestras e oficinas sobre temas como cultura, direitos humanos, justiça, educação, saúde, comunicação, meio ambiente, trabalho, tecnologia e produção.
De acordo com a estudante de relações internacionais da Uninter Aline Stéfani Corrêa, 23 anos, o projeto está superando as expectativas. “A gente está trabalhando em equipe, são 20 pessoas que não se conhecem, não têm intimidade nenhuma. Apesar de não ter estrutura aqui no Norte, há muita história de superação. Quando a gente está conversando com as pessoas, achando que vai ensinar alguma coisa, acaba aprendendo muito mais”.
Para o estudante de enfermagem da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Guilherme Gomes Silva, 21 anos, o projeto permitiu conhecer um Brasil totalmente diferente. Ele e outros alunos estão trabalhando no município de Ipixuna do Pará. “Eu vi que é possível viver mesmo sem coisas que você considera básicas. A gente está sem água, fica sem luz, mas, mesmo assim, está vivendo”.
As pessoas da comunidade também estão aproveitando a oportunidade. Segundo a dona de casa Ana Júlia Machado Mendes, 38 anos, o Projeto Rondon está sendo gratificante. “A cidade precisa de iniciativas como essa. Pena que as pessoas são muito acomodadas e não dão muita importância”
Criado em 1967 pelo Exército, durante a ditadura militar, o programa foi interrompido por uma ação do governo entre 1989 e 2004, sendo retomado em 2005. De acordo com o coordenador de Operações do projeto, major Sidnei Sérgio Vial, estimular a consciência cidadã e o desenvolvimento local sustentável são alguns dos objetivos do Projeto Rondon. "Queremos dar uma lição de cidadania. Nesse quesito, o resultado é maravilhoso. Os universitários voltam diferentes, mais amadurecidos”.
O Projeto Rondon é realizado duas vezes por ano, durante o período de recesso das universidades. A gestão é feita por um comitê composto por oito ministérios. A Operação Açaí acaba no próximo dia 22. A segunda operação, denominada Capim Dourado, começa amanhã (14) no Tocantins.
Edição: Graça Adjuto