Guilherme Jeronymo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Políticas de prevenção e combate ao consumo de drogas são alvo de discussões entre gestores públicos durante o 2º Encontro Nacional de Gestores de Políticas sobre Drogas, na capital fluminense. O evento é promovido pela Coordenadoria Especial da Promoção da Política de Prevenção à Dependência Química (CEPQD), do governo municipal.
“O debate sobre as drogas no país tem de ser uma ação rápida. Este encontro é fundamental na formação de uma nova cultura, de prevenção”, disse Maria Silvia Napolitano, coordenadora da CEPQD. Segundo a representante da prefeitura o evento ampliará as discussões do 1º encontro, que ocorreu em março, em Palmas (TO), quando foi constituído um fórum temático entre os gestores, em torno do qual se consolidou uma agenda permanente.
“Hoje o maior desafio é a saúde ser capaz de absorver a população que tem problemas com drogas. A saúde não está ainda preparada para receber essa demanda”, declarou o diretor executivo da organização não governamental (ONG) Viva Rio, Rubem César Fernandes. Segundo o antropólogo o setor somente lida com o tema considerando os dependentes químicos como doentes mentais, abordagem que não tem se mostrado resolutiva.
Durante o encontro serão debatidas experiências de combate ao crack, mas a droga não é considerada por Maria Silvia Napolitano o principal problema no Rio de Janeiro. Segundo ela “a principal droga é o álcool, que é lícito. O álcool é a porta de entrada de todas as drogas”, com impactos preocupantes sobre a saúde pública, como a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que consiste em danos ao feto em decorrência da exposição ao álcool pela gestante que faz uso da substância, danos esses que podem se perpetuar por toda a vida do indivíduo.
As políticas de prevenção são alvo de crítica inclusive da classe médica. O psiquiatra e psicólogo Miguel Chalub, que trabalha há 50 anos com dependentes químicos, ressaltou que “a prevenção que funciona é a que combate às causas: situação dos pais, a repressão familiar, a falta de perspectivas dos jovens, a pobreza, a miséria”.
Membro da Câmara de Psiquiatria do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), Chalub, que é favorável à legalização das drogas proibidas, a seu ver menos danosas à sociedade do que as substâncias legalizadas como o álcool e o tabaco, considera que o foco da atual política, na repressão ao usuário, é errado, e motor da corrupção e do próprio tráfico. “O tratamento vem de dentro da própria pessoa, então obrigá-la não vai funcionar, pois quando ela sair ela vai voltar ao tráfico”, disse.
Edição: Aécio Amado