Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O ineditismo da escolha da cidade do Rio de Janeiro como Paisagem Cultural, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), reflete, de certa maneira, a preocupação que o mundo está dedicando às relações entre o homem e a natureza, avaliou hoje (1º) o presidente do Instituto do Patrimônio História e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida, por telefone, de São Petersburgo, na Rússia, onde defendeu junto com a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, a candidatura da cidade.
É a primeira vez que um sítio urbano é considerado Patrimônio Cultural da Humanidade dentro da categoria Paisagem Cultural. Para Almeida, a decisão, por unanimidade, preenche uma lacuna importante. “Não se pode pensar em patrimônios culturais no país sem lembrar do Rio de Janeiro. A história do Atlântico Sul e do Brasil passa sem dúvida nenhuma pelo Rio de Janeiro. A escolha da cidade tem a dimensão de preencher essa lacuna. E a outra dimensão, não menos importante, é a do ineditismo”, disse.
Na avaliação do presidente do Iphan, rompe-se, assim, uma tradição de nomear monumentos ou cidades históricas e passa-se a pensar mais em uma relação muito específica entre o homem e a natureza. “Isto leva a uma outra visão de processo civilizatório para o mundo. Inaugura uma nova fase. E tem ainda a questão de que, se pensar em uma paisagem cultural como Patrimônio da Humanidade tem-se que, obrigatoriamente, pensar também no comprometimento de preservar este território”.
Almeida considera ainda que a decisão, tomada pelo 21 países presentes à 36ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, na Rússia, rompe a ideia predominante de que políticas setoriais basta para a preservação cultural de pontos históricos da humanidade.
“Além do compromisso de conversão deste bem cultural, que é a paisagem do Rio de Janeiro, nos é colocada uma outra questão: Por que estes valores tão específicos e fundamentais, e dos quais todos nós nos orgulhamos, que são a qualidade urbanística do Rio de Janeiro, não se reproduzem em um modelo de ocupação para as iniciativas que nós estamos adotando em outras cidades do Brasil, ou mesmo em outras cidades do próprio Rio de Janeiro?”, questiona.
Segundo Almeida, de certa maneira, a escolha do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural da Humanidade traz também uma reflexão sobre a capacidade do homem, diante da natureza, de conseguir se conciliar com ela, construindo lugares capazes, por si só, de se transformar também em patrimônio. “Será que nós não conseguiremos construir outros patrimônios culturais mundiais aproveitando essa oportunidade, essa série de eventos que estão programados para acontecer na cidade nos próximos anos – como as copas das Confederações e do Mundo, o Encontro Mundial das Famílias, as Olimpíadas de 2016? Acho que essa é a pergunta e a reflexão que fica neste momento tão significativo para o Rio e o país”.
Na entrevista à Agência Brasil, o presidente do Iphan destacou ainda que, na argumentação apresentada à Unesco, levou-se ao comitê decisor uma série de preocupações com pontos de deterioração da cidade. “Com a poluição da Baía de Guanabara, com a falta de regulação urbanística preocupada e voltada para o bem-estar da população do Rio de Janeiro”.
Ele reconhece que se, de um lado, a escolha do Rio como Paisagem Cultural é motivo de orgulho para todo mundo, “da mesma maneira e na mesma direção, pontua os desafios que nós temos pela frente. E não só os desafios da cidade do Rio de Janeiro ou do Brasil, mas também os desafios de se contar de uma maneira equilibrada e sustentada a história da própria humanidade”.
Edição: Lana Cristina