Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Filmes que misturam linguagens, transitando entre a ficção e o documentário, para retratar a relação dos portugueses com os imigrantes, emigrantes e a própria identidade se destacam na mostra Cinema Português Contemporâneo. O festival, com nove longas-metragens e dez curtas, pode ser visto no espaço Caixa Cultural, no centro da capital paulista, de 3 a 8 de julho.
Um dos destaques é o longa Juventude em Marcha, dirigido por Pedro Costa. “É um filme que o Pedro Costa vai filmar na Cova da Moura, um bairro social [pobre] na periferia de Lisboa. É um filme que tenta recuperar a memória social dos cabo-verdianos que moravam naquele bairro, que depois foi transformado em conjunto habitacional”, explica a curadora da mostra, Michelle Sales.
A temática comum que permeia as produções faz parte da pesquisa que Michelle começou a desenvolver em Portugal. “Eles representam a minha proposta, que é pensar a identidade portuguesa, a representação da nação, a diáspora em Portugal. Como o português olha para o estrangeiro e para o imigrante”, conta.
Nessa linha estão algumas obras produzidas por autores que a curadora classifica como pertencentes à Geração Curtas. “É o nome que a gente deu para a geração que conseguiu financiamento do Estado para fazer o seu primeiro curta-metragem”, comenta sobre esses jovens diretores que investem em linguagem altamente experimental e “se consagram muito mais na crítica do que em bilheteria”.
Michelle explica que o financiamento estatal é uma conquista recente que tem dado maior liberdade criativa para os cineastas, por não dependerem de sucesso comercial para realizar as produções. “O país criou um sistema de financiamento para o cinema que privilegia esse tipo de produção experimental, voltada para um mercado de arte, para circular exatamente nesse espaço dos festivais e das mostras”.
Além disso, de grande parte deles ter ganhado destaque na última década, os diretores da Geração Curtas também se caracterizam por ser, em sua maioria, do Norte do país. “Ser do Norte representa estar mais próximo de uma identidade da essência portuguesa”, completa a curadora. Entre esses estão Sandro Aguilar (Mercúrio) e João Salaviza (Arena, ganhador da Palma de Ouro de Cannes).
Edição: Graça Adjuto