Akemi Nitahara e Beatriz Arcoverde*
Repórteres da EBC
Brasília - A integração entre lavoura e pecuária tem gerado bons frutos. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estima que 3 milhões de hectares de pastos degradados no Cerrado estão sendo recuperados com essa técnica.
A Fazenda Cabeceira, na cidade de Maracaju, em Mato Grosso do Sul, tem 950 hectares de integração. O proprietário Ake Van Der Vinne é um dos precursores do sistema e utiliza a técnica há mais de 20 anos. “É um pouco tradição de casa, porque na colônia holandesa, onde me criei, a tradição é investir na terra para depois produzir. Eu acho que também é não fazer a monocultura”.
Van Der Vinne começou trabalhando com a lavoura e a agricultura separadamente, sem integração. Mas logo percebeu que poderia trabalhar com os dois juntos, porque a pecuária beneficiaria a agricultura e vice-versa. “Planta-se por três anos seguidos a lavoura no verão. Um ano soja, no outro algodão e depois de novo a soja. E a pastagem fica o ano inteiro. Então, aumenta muito a produção e consigo 25 arrobas por hectare”.
O engenheiro agrônomo da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso do Sul (Famasul) Lucas Galvan também destaca o rendimento da pecuária com a implantação do sistema agropastoril. De acordo com ele, o estado tem 15 milhões de hectares de pastagens plantadas, entre produtivas e degradadas. “Nós temos regiões, principalmente onde se faz a integração lavoura-pecuária, onde conseguimos seis, até oito unidades animais por hectare, número considerado alto. Mas não é a média, não é a realidade do estado”.
Sebastião Conrado tem uma fazenda em Luziânia, a cerca de 200 quilômetros de Goiânia. Ele implantou a integração agropastoril há mais de dez anos e também colhe os bons resultados ao diversificar a produção, recuperar e manter a capacidade do solo. “Você tem a parte de produção de grãos e a parte de carne e leite. E tem o lado ecológico, que hoje é superimportante também. Você diminui o uso de inseticida, de agrotóxico e reduz a produção de praga, doença e erva daninha”.
Sebastião começou o sistema com 200 hectares e hoje a integração já ocupa 1.500 hectares, com feijão, soja e milho em consórcio com o capim braquiária para a pastagem. Ele lembra que o uso da lavoura evita a erosão do solo e a poluição de açudes.
O técnico do Ministério da Agricultura Maurício Carvalho explica que a maior dificuldade para aumentar a área com produção integrada é encontrar agricultores e pecuaristas dispostos a se dedicar a mais de um sistema produtivo. “Nós temos essa vasta área de pastagens degradadas e aí temos dificuldade de fazer do pecuarista um agricultor. É preciso que o sujeito seja um bom agricultor hoje para tocar lavoura. Ou então buscar outra alternativa, que é fazer um contrato entre agricultores e pecuaristas para que haja a recuperação dessas pastagens”.
De acordo com Carvalho, não interessa ao governo e nem à maior parte dos pecuaristas adquirir máquinas caras para tocar suas lavouras e recuperar essas pastagens. Segundo ele, a realidade, no entanto, está mudando, com incentivos das instituições de pesquisa, do governo e também por iniciativa dos produtores, que querem recuperar a terra e contribuir para a conservação do meio ambiente.
*A série Práticas Sustentáveis no Cerrado é vencedora do 1º Prêmio Pecuária Sustentável de Jornalismo – Categoria Rádio//Edição: Graça Adjuto