Da BBC Brasil
Brasília – A América Latina enfrenta uma avalanche de medidas protecionistas, à revelia do agravamento da crise financeira, em grande parte impulsionada pela Argentina e pelo Brasil. A conclusão está no relatório Latin America Watch, publicado pela consultoria britânica Capital Economics.
Juntos, os dois países responderam por 75% das barreiras comerciais que entraram em vigor no continente entre 2009 e 2011. O economista Michael Henderson, autor do estudo, informou que o número de práticas comerciais consideradas "discriminatórias aos interesses estrangeiros" praticamente dobrou na América Latina entre 2009 e 2011, segundo apontam dados da agência Global Trade Alert.
Henderson destaca, entretanto, que a nova onda protecionista no continente não pode ser explicada exclusivamente como uma forma de blindagem dessas economias aos efeitos da crise. De modo geral, com a turbulência dos mercados internacionais, os países mais ciosos de suas finanças passaram a buscar meios de incentivar o mercado interno, impondo, invariavelmente, barreiras alfandegárias.
Entretanto, independentemente da tendência verificada ao redor do mundo, a América Latina apresentou um aumento tanto em termos relativos quanto absolutos no número dessas medidas protecionistas, diz Henderson.
Ele relembra, contudo, que as diferentes iniciativas protecionistas não têm o mesmo impacto. "Em primeiro lugar, um aumento das tarifas de importação pode, por exemplo, ser mais discriminatória do que uma ajuda pontual do governo federal a um setor que esteja ocasionalmente passando por problemas", analisa Henderson no relatório.
Além disso, diz ele, os dados mascaram fortes diferenças intrarregionais. Na divisão por países, a Argentina e o Brasil lideram o ranking dos maiores contendores, tendo respondido por 75% do total das medidas protecionistas do continente entre 2009 e 2011.
Segundo Henderson, somente a Argentina registrou 130 incidentes de protecionismo no período analisado, mais do que o todo o restante da região. Ele ressalta, porém, que a opção de alguns países por medidas protecionistas não impede que sejam tomadas outras iniciativas consideradas favoráveis à competição externa.
"No Brasil, por exemplo, quando se analisa o número de medidas comerciais ditas liberais, o país tende a um equilíbrio, diferentemente da Argentina", avalia Henderson na pesquisa.
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