Emerson Penha
Correspondente da EBC na África
Juba (Sudão do Sul) – O principal motivo das três décadas de guerra civil pela independência do Sudão do Sul foi a disputa pelas reservas de petróleo. O mais novo e um dos mais pobres países do mundo está sobre um mar de combustíveis fósseis. Com a independência, os sul-sudaneses ficaram com 75% das reservas petrolíferas do antigo Sudão. Mas os oleodutos e a saída para o Mar Vermelho ficaram com os sudaneses do Norte. O Sul não consegue explorar nem exportar e o ciclo de instabilidade política se perpetua, com uma aparentemente interminável discussão sobre a fronteira entre os dois países.
As regiões fronteiriças de Heglig e Abyei, ambas grandes produtoras de petróleo, têm como principal característica o vai e vem interminável de soldados e carros de combate. Em maio, o Sudão do Sul retirou as tropas de ambas as cidades, após intensos combates. A manobra de evasão militar, no entanto, serve mais para evitar possíveis sanções internacionais do que para selar a paz. Os dois países apoiam milícias armadas que saqueiam, estupram e matam por onde passam. “Não façam prisioneiros, não temos comida para eles”, disse o chefe de um desses bandos, em uma reportagem da televisão local.
Nesses conflitos, entidades de direitos humanos estimam em 10 mil o número de mortos só depois da independência. E cerca de 300 mil pessoas fugiram para as montanhas, levando o que puderam, e hoje vivem em cavernas para fugir da violência.
O Sudão não declarou guerra ao Sudão do Sul, mas o presidente sul-sudanês, Salva Kiir, acusa o Norte de promover frequentes bombardeios nas áreas em litígio. Recentemente, as negociações de paz foram retomadas e representantes dos dois países têm uma agenda de reuniões para os próximos meses em Adis Abeba, na Etiópia.
Edição: Vinicius Doria