Formada em sua maioria por pequenos depósitos, poupança vira foco da política monetária

03/05/2012 - 18h13

Daniel Lima e Kelly Oliveira
Repórteres da Agência Brasil

Brasília – A auxiliar de cozinha Maria Joaquina de Oliveira, de 50 anos, reserva todo mês uma quantia fixa de seus rendimentos para poupar. O seu sonho, além de pagar os estudos dos filhos, é comprar sua casa própria com o dinheiro economizado. "Eu fiz a minha poupança no ano de 1990 e sempre que posso, deposito. Costumo colocar de R$ 50 a R $60. Eu deixo esse dinheiro guardado porque quero pagar a faculdade dos meus filhos e eu tenho o sonho de comprar a minha casa própria com a ajuda da poupança", relata.

A caderneta de poupança onde dona Maria Joaquina deposita, todos os meses, de R$ 50 a R$ 60, nem parecia estar envolvida em um debate sobre a política monetária e a forma como o governo financia os seus gastos.

Outra investidora, a servidora pública Maria Valdete, de 40 anos, aplica na caderneta de poupança há mais de oito anos e faz suas economias para garantir os estudos dos filhos no futuro. "Eu tenho essa caderneta de poupança já tem uns oito anos. Aplico cerca de R$ 50 todo mês porque quero garantir a faculdade dos meus filhos daqui mais uns anos", conta. Enquanto isso, na Esplanada dos Ministérios, o assunto passou a ser o assunto do dia na área econômica.

Com mais de 150 anos de existência, a poupança é um investimento simples e acessível. Segundo dados do Banco Central (BC), no final de 2011, quase 98 milhões de brasileiros tinham cadernetas de poupança. No dia 25 de abril, o saldo dos depósitos estava em R$ 431,228 bilhões. No mês passado, até o dia 25, os depósitos superavam as retiradas em R$ 91,8 milhões.

Outro relatório do BC mostra que a maioria dos depósitos em poupança é de pequenos valores. Em 2011, 52,34% eram depositantes (51,288 milhões) de até R$ 100. Depósitos de R$ 100,01 a R$ 500 representavam 13,46% do total e de R$ 500,01 a R$ 1 mil, eram 6,65%. Depósitos com valores acima de R$ 1 milhão vinham de 7.118 depositantes ou 0,007% do total de brasileiros que têm caderneta de poupança, que são 97,984 milhões. Apesar de representar um percentual pequeno do total, o número de aplicadores milionários subiu de 187,01%, de 2006 (2.480) para 2011.

A poupança paga taxa de 0,5% ao mês mais a taxa referencial (TR), calculada pelo BC. O dinheiro precisa ficar aplicado por um mês para receber a remuneração e não há cobrança de impostos, nem de taxa de administração.

O investimento entrou na discussão sobre política monetária – controle da moeda em circulação e das taxas de juros – quando a taxa básica de juros, a Selic, passou a ser reduzida pelo BC. É que os fundos de renda fixa têm remuneração ligada à taxa Selic, o principal instrumento de política monetária.

Esses fundos são formados por títulos públicos utilizados pelo governo na rolagem da dívida. Ou seja, o governo se financia com as aplicações dos investidores. Com a queda da Selic, um fundo de investimento, a depender da taxa de administração cobrada pela instituição financeira, pode pagar menos do que a caderneta. O governo, portanto, teme a migração dos investidores dos fundos de renda fixa para a poupança com uma Selic menor. Assim, para que o BC tenha mais espaço para cortar a taxa Selic, sem reduzir a demanda por títulos públicos, seria necessário fazer mudanças na remuneração da poupança.


Edição: Lana Cristina