Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF), feita em 13 escolas públicas e particulares do Rio e 40 de Niterói e São Gonçalo, identificou a ocorrência de casos constantes de violência em 68% das instituições pesquisadas, sendo que em 85% delas não havia psicólogos. Maus-tratos, brigas entre colegas e conflitos com professores foram as ocorrências mais comuns.
Realizada entre 2010 e 2011, a pesquisa será apresentada amanhã (23) durante o 3º Ciclo Internacional de Conferências e Debates: Crises na Esfera Educativa - Violências, Políticas e o Papel do Pesquisador, na Faculdade de Educação da UFF, em Niterói. A pesquisa revelou que 53% dos entrevistados que disseram haver violência na escola apenas mencionaram existir algum tipo de violência, 11% disseram que a incidência de casos violentos é alta e 31%, que há violência, mas que é baixa.
A coordenadora da pesquisa, Marília Etienne Arreguy, doutora em saúde coletiva e professora de psicologia do Departamento de Fundamentos Pedagógicos da Faculdade de Educação da UFF ressaltou que, a partir dos dados qualitativos, que considera os mais relevantes, é possível identificar que, mesmo nas instituições em que o nível de violência é relatado como baixo, informações dadas pelos próprios entrevistados contradizem a afirmativa. “Houve entrevistados que disseram que a violência era baixa e que o camburão da polícia só passava na escola de vez em quando”.
Dentre as instituições pesquisadas, 45% eram estaduais, 35% municipais, 3% federais e 17% particulares. A pesquisadora lamentou a ausência de profissionais de psicologia e de assistência social dentro das escolas, sobretudo nas públicas, e concluiu que a violência crescente nessas instituições de ensino é acentuada pela falta de apoio aos alunos, na sua maioria, pobres. “Alguns funcionários riram quando perguntados se havia psicólogos nas escolas e respondiam que, se faltava professor, ainda mais psicólogos. Apenas uma escola pública, no Rio, tinha um contingente minimamente razoável de psicólogos”.
Segundo Marília Arreguy, a maioria dos alunos considerados violentos é encaminhada para o serviço público de saúde e muitos parentes acabam não levando os filhos para a consulta com um psicólogo, por variados motivos, como falta de meios para pagar a condução, falta de tempo, por preconceito, filas de espera enormes para atendimento, falta de profissionais, entre outros.
“A violência é fundamentalmente social, contextual e humana. Essa agressividade inerente ao humano precisa ser trabalhada nas escolas para que ela não se transforme em violência e ajude o aluno a viver melhor. Esse trabalho não está sendo feito ou está sendo feito de modo ineficiente. Essas crianças estão sem assistência e acabam, muitas vezes, sendo medicadas, como se esse fosse apenas um problema do indivíduo”.
A educadora criticou as linhas de pesquisa e projetos “estigmatizantes” que focam na identificação de crianças que sofrem bullying ou têm perfil violento. “Claro que existem crianças e jovens com mais dificuldade na relação intersubjetiva, mas o problema é mais amplo, é uma questão da sociedade. A violência está sempre ligada à relação de poder, de subjugação de um sujeito em relação ao outro, ou mesmo é decorrente de formas de opressão institucionalizadas”.
O estudo mostra também que 73% dos profissionais entrevistados disseram ser a favor da ajuda de um psicólogo atuando em auxílio à educação. Muitos professores disseram ter sido agredidos e ameaçados por alunos.
“Precisamos de recursos públicos, concursos, mais psicólogos e assistentes sociais nas escolas, professor bem pago e trabalhando com satisfação”, observou Marília Arreguy. Segundo ela, na cidade do Rio, a situação é um pouco melhor que em Niterói e São Gonçalo, já que, na capital, existe contingente de psicólogos atuando nas coordenadorias regionais de educação.
Edição: Lana Cristina