Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Uma publicação que associa o conhecimento de pesquisadores e extensionistas ao saber de agricultores familiares no uso do solo, com a finalidade de melhorar a sustentabilidade da pequena produção agrícola, é a iniciativa da Embrapa para comemorar o Dia Nacional de Conservação do Solo.
O livro Integração Participativa de Conhecimento sobre Indicadores de Qualidade do Solo será lançado no próximo dia 17, na sede da Embrapa Solos, no Rio de Janeiro. A publicação integra os saberes locais, isto é, dos produtores, sobre a qualidade dos solos, com os saberes técnicos, dos pesquisadores e extensionistas, disse hoje (13) à Agência Brasil o engenheiro agrônomo Heitor Coutinho, um dos autores do livro e pesquisador da unidade carioca.
“O resultado dessa metodologia é um conhecimento híbrido, ou seja, um conhecimento integrado, sobre a qualidade do solo, que é a base para desenvolver planos de manejo, melhorar o manejo do solo e da água, torná-los mais sustentáveis. O objetivo é alcançar a sustentabilidade”, revelou o agrônomo.
O Dia Nacional de Conservação do Solo é comemorado no dia 15 de abril e foi instituído pela Lei 7.876, de 13 de novembro de 1989. A data propõe reflexão sobre a necessidade de utilização correta desse recurso natural. Ela homenageia o nascimento do americano Hugh Hammond Bennett, o primeiro responsável pelo Serviço de Conservação de Solos dos Estados Unidos.
A publicação é um guia metodológico, informou Heitor Coutinho. Ela ajuda, em especial, o processo de diálogo entre o técnico, que está trazendo a inovação tecnológica, e os produtores. “Esse diálogo, historicamente, é complicado”. Isso se agrava, acrescentou, com a “situação de fraqueza da assistência técnica e extensão rural que a gente vê hoje no Brasil”.
O agrônomo avaliou que a nova metodologia abre um canal de diálogo eficiente porque padroniza a linguagem e, ao ser aplicada, promove uma discussão sobre o manejo do solo, que é um dos principais problemas do meio rural. Muitas vezes, admitiu, são os técnicos que aprendem com os pequenos produtores e saem dispostos a modificar a inovação que estão levando para o campo.
O livro reúne metodologia desenvolvida pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat), da Colômbia, com agricultores familiares na América Central e na África, e que agora será aplicada pela Embrapa Solos em cinco biomas brasileiros. Participou também desse processo o Centro Mundial para Agrofloresta (Icraf), sediado no Quênia.
Entre 2008 e 2011, foram realizadas cinco oficinas de capacitação de técnicos brasileiros - com uma semana de duração cada - nos biomas Bonito (MS), Campina Grande (PB), Canoinhas (SC), Igarapé-Açu (PR) e Montes Claros (MG).
Coutinho disse que, nessa fase, os técnicos se capacitaram para implementar os conhecimentos adquiridos em suas áreas de atuação. Na próxima etapa, que deverá começar ainda este ano, eles aplicarão os saberes em comunidades específicas, por meio de planos de gestão da propriedade.
Durante as oficinas, houve uma interação direta com os produtores, expôs Coutinho. Eles apresentavam sua visão de indicadores da qualidade do solo, baseados em cor, plantas e consistência, por exemplo, aos quais se contrapunham os indicadores dos pesquisadores e extensionistas, cuja prioridade eram teor de matéria orgânica e agregação, entre outros fatores.
A união desses conhecimentos gerou uma série de indicadores integrados. No último dia de oficina, batizado Feira do Solo, as amostras de solo levadas pelos agricultores foram analisadas pelos técnicos. “A metodologia faz a integração dessas informações (dos produtores) para uma informação técnica”.
A metodologia está sendo levada para Moçambique, dentro do projeto Plataforma África Brasil de Inovação Agropecuária, gerenciado pela Embrapa e apoiado pelo governo brasileiro. Um workshop para aplicação dessa metodologia será organizado em maio próximo, nesse país africano.
Edição: Davi Oliveira