Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O circo precisa de apoio oficial para se manter como atividade empresarial e artística, assegurando, assim, a continuidade da tradição da arte circense, defendeu hoje (27), no Dia Nacional do Circo, o empresário e ator carioca Limachem Cherem, colega de picadeiro por mais de 20 anos de Carequinha, o mais famoso palhaço brasileiro. Para ele, não há muito o que comemorar na data.
“O circo hoje não anda bem. Além da restrição ao uso de animais, a atividade sofre com a escassez de terrenos nas cidades para a montagem das lonas. Um exemplo disso é a Praça Onze, um ponto tradicional do circo, hoje totalmente ocupada pelo Terreirão do Samba”, diz o ator de 55 anos, que vive o palhaço Cherem. Empresário do setor, ele seguiu a tradição de ensinar a arte às filhas e as duas, Slanny e Sluchem, são hoje, respectivamente, as palhaças Carequita e Repita.
Para Limachem Cherem, a tradição de passar a arte circense para outras gerações está acabando. “As famílias circenses estão acabando”, reconhece. Ele, no entanto, lembrou de iniciativas que considera positivas, como o prêmio criado pela Fundação Nacional de Arte (Funarte) após a morte de Carequinha, em 2006. Com o patrocínio da Petrobras, o Prêmio Carequinha contempla, com ajuda financeira, companhias, trupes ou grupos circenses que queiram adquirir equipamentos, produzir espetáculos ou organizar festivais de arte circense.
Outra preocupação do palhaço e empresário circense é quanto à empregabilidade dos profissionais do setor. “Muitos palhaços, equilibristas e malabaristas ganham a vida hoje nos sinais de trânsito e em praças públicas.”
Cherem registra ainda outro fenômeno comum, a migração de artistas que se formam pela Escola Nacional de Circo para outros países. “É uma honra muito grande mandarmos artistas brasileiros para os circos internacionais, mas, mesmo lá fora, não há um grande mercado de trabalho, e muitos acabam em parques de diversões e casas de shows”, relata.
Criada em 1982 pelo ator circense Luis Olimecha e sediada no Rio de Janeiro, a Escola Nacional de Circo é a única instituição de ensino diretamente mantida pelo Ministério da Cultura. Atualmente com 200 alunos matriculados, admitidos por concurso, a escola oferece cursos regulares de formação e reciclagem de artistas. O terreno de 7 mil metros quadrados que ocupa, na Praça da Bandeira, abriga uma lona com capacidade para 3 mil espectadores.
Mas, se, nas grandes cidades, os grandes circos lutam por espaços para montar suas lonas e cumprir as normas de segurança do Corpo de Bombeiros e as exigências das prefeituras, no interior do país, ainda há a tradição de receber os pequenos circos mambembes de braços abertos. “Nas pequenas cidades, eles [os pequenos circos] ainda encontram espaços para montar suas pequenas lonas. São cidades carentes de diversão, e quando o circo chega é uma alegria”, afirma o palhaço Cherem, lembrando sua própria experiência pelo interior fluminense.
O Dia Nacional do Circo é comemorado nesta data porque foi o dia em que nasceu, em 1897, na cidade paulista de Ribeirão Preto, Abelardo Pinto, o palhaço Piolin. Falecido em 1973, Piolin é considerado o pioneiro no reconhecimento do circo entre as artes cênicas brasileiras.
Edição: Lana Cristina