Da Agência Brasil
Brasília – O secretário-geral da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Jérôme Valcke, garantiu que virá ao Brasil no próximo dia 12 para continuar acompanhando os preparativos para a Copa do Mundo de 2014. Valcke classificou de “um pouco infantil” a decisão do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, de não recebê-lo mais para tratar da Copa por ter declarado que o país precisa levar “um chute no traseiro” por causa dos atrasos nas obras.
A declaração de Valcke foi feita ontem (3), em Londres, mesmo local onde, na véspera, ele fez as críticas que levaram Rebelo a considerar os comentários como “impertinentes e descabidos”, motivo pelo qual “o governo não aceitará mais o secretário-geral como interlocutor nesses assuntos da Fifa”. O ministro disse que vai conversar com o presidente da Fifa, Joseph Blatter, para pedir um novo interlocutor, já que Valcke, segundo ele, não será mais recebido no país.
Durante entrevista coletiva concedida ontem em um hotel de São Paulo, o ministro disse que o governo brasileiro não pode dialogar com um interlocutor que “emite declarações descuidadas e intempestivas”. Mas, em Londres, de acordo com a Rádio França Internacional, ao saber das declarações de Rebelo, o secretário-geral da Fifa respondeu ao ministro brasileiro com ironia e reafirmou que o país não está honrando os compromissos em relação à organização do evento, às construções dos estádios, além de outros atrasos.
"Agora, se o problema é eu ter feito uma declaração, enquanto nada evoluiu nos últimos cinco anos...Eu disse exatamente o que está acontecendo no Brasil, onde as coisas não estão bem encaminhadas. Se o resultado disso é que agora o governo não quer mais falar comigo e nem trabalhar comigo, acho um pouco infantil”, disse Valcke ontem na capital britânica em resposta a Rebelo.
Valcke está participando em Londres da reunião do Conselho Legislador da Fifa e na sexta-feira (2) disse que a construção de estádios e a infraestrutura de transportes e hotéis para a Copa no Brasil está atrasada, motivo pelo qual os organizadores precisavam de “um chute no traseiro”, pois o país está mais preocupado em ganhar a Copa do que em organizá-la.
O secretário-geral da Fifa também atacou o Congresso brasileiro pelo que considera “discussões infindáveis” sobre a Lei Geral da Copa, que está em tramitação na Câmara dos Deputados e ainda não teve sua votação concluída na comissão especial encarregada do projeto de lei encaminhado pelo governo.
Entre os temas polêmicos do projeto está a permissão da venda de bebidas alcoólicas nos estádios durante as partidas da Copa, abrindo uma exceção na legislação brasileira só para atender a Fifa, que tem uma indústria de bebidas entre os patrocinadores do Mundial. Na comissão especial da Câmara, três dos dez destaques de votação que deverão ser apreciados na terça-feira (6) destinam-se a impedir a liberação da bebida autorizada no texto do relator, deputado Vicente Cândido (PT-SP).
Apesar das críticas que fez ao andamento dos preparativos para a Copa, o secretário-geral da Fifa disse na sexta-feira que não há um "plano B" para a Copa do Mundo de 2014 e que o evento acontecerá no Brasil, mas os torcedores podem sofrer, pois o país não tem hotéis suficientes em todos os lugares para recebê-los, com exceção de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Por sua vez, o ministro Aldo Rebelo afirmou em sua entrevista coletiva que não há razão para que o país não receba a Copa do Mundo, pois “o Brasil tem hoje a infraestrutura, a logística e a capacidade de realizar um evento dessa natureza” e a maior parte das obras dos estádios brasileiros para a Copa do Mundo está seguindo o cronograma previsto.
As únicas obras que estão um pouco mais atrasadas com relação ao cronograma, de acordo com o ministro, são as dos estádios de Cuiabá, Manaus, Recife e do Rio de Janeiro. “Já as obras de mobilidade urbana, do total de 51 [obras previstas para serem realizadas], a previsão continua sendo a de entregar pelo menos 42 em 2013."
Edição: Andréa Quintiere