Renata Giraldi*
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Compreensão e adaptação à cultura do Japão podem explicar a redução de crimes envolvendo brasileiros no país, segundo relatos de denunciados e de quem lida com a comunidade brasileira. Detidos por policiais japoneses há cerca de um ano, o estudante brasileiro André Ryuji Abe Lage, de 14 anos, e um grupo de amigos foram acusados de vandalismo. O grupo foi flagrado pichando muros e quebrando vidros da janela de um prédio na cidade de Ikeda, província de Gifu, Região Central do Japão.
Como ainda tinha 13 anos na época, ele não foi a julgamento, mas recebeu como punição seis meses de visitas periódicas com a família a uma clínica psicológica. "Entendi que o que estava fazendo era algo errado e que poderia cometer crimes mais graves no futuro", disse Lage.
O estudante faz parte dos dados da Agência Nacional de Polícia do Japão que mostram que caiu o número de jovens envolvidos com crimes no país. No primeiro semestre de 2011, 54 jovens brasileiros com idade de 14 a 19 anos foram julgados. Dos crimes citados apenas um foi considerado hediondo, 34 foram furtos e o restante se refere ao envolvimento com drogas.
O sociólogo e professor da Universidade Musashi Angelo Ishi, disse, no entanto, que não se pode limitar a causa da queda no número de delitos cometidos por jovens brasileiros à redução da quantidade de imigrantes do Brasil no Japão. "Um número maior de pais se conscientizou sobre a necessidade de se comunicar mais com os filhos, e também de monitorá-los", disse. "Outra explicação é que os jovens perceberam que a polícia japonesa é extremamente eficiente para prender quem comete um crime."
A presidenta da Associação das Escolas Brasileiras no Japão (AEBJ), Maria Shizuko Yoshida, disse ainda que o tempo médio de permanência do brasileiro no país aumentou em relação ao passado, o que facilitou a adaptação à sociedade japonesa. "Sentir-se mais inserido significa entender melhor as regras, os costumes e a cultura e dominar melhor o idioma falado no país", explicou.
No fim de 2001, o Parlamento do Japão aprovou um projeto de lei que reduziu de 16 para 14 anos a idade mínima a partir da qual um jovem pode ser considerado criminalmente responsável. A revisão da lei, originalmente promulgada em 1949, representou grande mudança em relação ao objetivo inicial de reabilitar os infratores juvenis, mais do que puni-los.
A modificação foi feita após uma série de crimes brutais que marcaram a sociedade japonesa, todos cometidos por adolescentes. Naquele ano, um estudante de 17 anos matou a mãe a golpes de raquete. Um mês antes, outro jovem de 17 anos, doente mental, sequestrou um ônibus e matou uma passageira idosa a facadas.
O crime mais marcante aconteceu em 1997, quando um garoto de 14 anos matou um colega de 11. Depois, ele o decapitou e pendurou a cabeça no portão da escola onde estudavam. Na comunidade brasileira, um dos crimes mais marcantes foi o que envolveu o jovem Herculano Lukocevicius, de 14 anos, espancado até a morte por um grupo de jovens japoneses em outubro de 1997.
*Com informações da BBC Brasil//Edição: Graça Adjuto