Monica Yanakiew
Correspondente da EBC na Argentina
Buenos Aires - O governo argentino garantiu hoje (2) que o novo regime de importação, em vigor desde ontem (1º), não prejudicará a indústria brasileira. A saída para manter o comércio bilateral, em um ano de crise internacional e crescimento econômico menor na região, seria aumentar, tanto as compras brasileiras de produtos argentinos, como as importações argentinas de bens e serviços brasileiros.
O assunto foi um dos temas de uma reunião de duas horas, hoje, do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, com a equipe econômica argentina. Participaram do encontro os ministros da Economia, Hernando Lorenzino, e da Indústria e Comércio, Debora Giorgi, além dos secretários de Comércio Exterior, Beatriz Paglieri, e do Comércio Interior, Guillermo Moreno.
"Foi uma reunião muito positiva", disse Skaf, ao sair da reunião. "Tive a afirmação, por parte do governo argentino, de que não haverá prejuízos [para a indústria brasileira], mas que haverá soluções." Segundo ele, o aumento das importações de insumos argentinos para a indústria naval do Brasil também foi discutido. No encontro, não se falou sobre os produtos que haviam sido importados antes da entrada em vigor das novas normas e que estão parados nos portos e nas alfândegas - entre eles, tomates em conserva, milho e eletrodomésticos da linha branca.
Pelas novas normas, os importadores argentinos têm que pedir autorização prévia, antes de comprar no exterior, tanto a Afip (Receita Federal local) como a Guillermo Moreno, autoridade que tem a palavra final. O governo tem até treze dias úteis para responder a cada pedido.
A medida foi implementada às pressas porque a Argentina tem um problema de caixa e precisa manter um superávit na balança comercial de pelo menos US$ 10 bilhões. Com a crise internacional, fica mais difícil exportar e todos querem colocar seus produtos no mercado. Daí a necessidade do governo argentino de contar com um sistema ágil para controlar as importações.
"Este ano a Argentina terá que importar US$ 7 bilhões de energia elétrica - mais que o triplo do que importou em 2011", disse à Agência Brasil o economista Marcelo Elisondo, diretor da consultora DNI. "É o superávit comercial uma das principais fontes de recursos da Argentina, que não tem acesso a créditos externos, desde que decretou a moratória da dívida em 2001. O governo também precisa de dinheiro para financiar as empresas estatais, os planos sociais e os aumentos salariais do setor público. E como a economia este ano só deve crescer 3,5%, ou seja um terço do que cresceu em 2011, a arrecadação de impostos também será menor", concluiu.
Antes da reunião com a equipe econômica argentina, Skaf também se reuniu com representantes das principais empresas brasileiras na Argentina, para ouvir as dificuldades que cada setor tem enfrentado. "A maior preocupação dos empresários é que ninguém sabe ao certo como funcionarão as medidas. Ou seja, tem um clima de incerteza", disse o presidente da Câmara de Comércio Argentino Brasileira, Jorge Rodriguez Aparício. "Varias empresas que estão importando bens de capital, para produzir aqui, estão com dificuldades. Mas é preciso aguardar alguns dias para ver como funcionarão as novas medidas", completou.
Edição: Aécio Amado