Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A prorrogação do aluguel social por mais um ano, para as 7 mil famílias desabrigadas da região serrana do Rio de Janeiro afetadas pelas chuvas de janeiro, soou como alívio para quem recebe o benefício. O anúncio também reacendeu a esperança de quem, na mesma situação, ainda não conseguiu ser atendido com o recurso, mesmo doze meses depois da tragédia.
Sílvia e Aníbal Barroso têm nas mãos um laudo emitido pela Defesa Civil condenando a casa em que moravam no bairro de Duas Pedras, em Nova Friburgo. O bairro foi um dos mais atingidos pela tragédia. Mesmo com o documento em mãos e as consultas à prefeitura da cidade, até hoje, continuam sem ver a cor do dinheiro.
“A gente chega lá e eles dizem que a gente tem que aguardar. Aguardar como? Não é possível, com tantas viagens que fiz até a prefeitura”, indigna-se Aníbal, apontando suspeitas que já comprometeram a administração municipal anterior. “Tem pessoas aí, com casas alugadas, fazendo obras e recebendo aluguel social e a gente aqui! É irritante essa situação.”
O resultado foi arregaçar as mangas. O casal deixou a propriedade em que viveu por anos e encontrou uma casa no bairro de Santa Bernadete. “Perdi minha casa, o barranco caiu no meu quarto. Agora estou trabalhando para comprar o que precisava. Não tive ajuda de uma pessoa”, relatou Sílvia que garante que já fez o cadastro para receber o aluguel social por, pelo menos, quatro vezes.
Joelma Matos não perdeu qualquer coisa com a chuva. Uma exceção entre tantas tragédias e prejuízos. Mas ela acompanha a saga da irmã e da mãe que moram em Córrego Dantas, também em Friburgo. O rio que passa em parte do bairro dividiu o território em dois e se transformou em um desafio para os moradores: atravessar o novo curso das águas para chegar em casa.
“O rio não era grandão como hoje. Agora cada chuva que dá, vai alargando mais porque vai caindo areia. Não dragaram aquele rio ali”, disse. A dragagem começou há poucos dias, com caminhões do governo, mas, segundo ela, “estão aqui por causa do protesto que [os moradores] fizeram ali no asfalto outro dia. Não estava passando carro algum pela ponte depois da chuva de uns quinze dias atrás”, explicou.
A mãe de Joelma, a aposentada Maria Nilza de Souza, conhecida, entre os amigos, como Iza, ainda guarda amargas lembranças da tragédia. “Descia tanta água e eu, meu marido e uma das minhas netas, escutando da janela as barreiras caindo e as pessoas pedindo ajuda. Abri o portão para os vizinhos entrarem na garagem. Deu impressão que isso aqui ia acabar tudo”, relatou.
Na noite daquela terça-feira, além de todo o cenário de pânico, Iza pensava na casa da outra filha. “Minha filha estava na Bahia com o marido e o filho. Na casa estava a sogra dela e minha outra neta de 17 anos.” No dia seguinte, quando soube que a casa de um dos vizinhos da filha tinha sido destruída, não sobraram dúvidas. “Quando me contaram que a casa do Moacir tinha caído, sabia que a da minha filha também tinha caído porque era perto e estava pior. Só pensei 'Meu Deus! Matou minha neta e a outra vó dela!'”. Emocionada, ela lembra quando, horas depois, a neta apareceu e contou que conseguiu fugir pela mata, junto com um grupo de 18 pessoas, e subir para além das rochas que desmoronaram.
Passado o susto, Iza vive agora com a dúvida sobre o futuro. “Ela [a filha] não pode mais construir nada no terreno. Perdeu tudo e até hoje está assim. Entrou com o pedido do aluguel social, mas não conseguiu ainda.” Maria Nilza ainda acrescenta o medo a tantas incertezas “Eu moro aqui há 40 anos, mas tenho muita vontade de sair. Mas ir para onde?”.
De acordo com o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, serão disponibilizados R$ 42 milhões para o pagamento dos valores do aluguel social até o final de 2012. Perguntado sobre as pessoas que ainda não receberam o benefício, Pezão explicou que a distribuição é responsabilidade dos municípios.
“É a sociedade, as prefeituras e a cidade que têm que tomar conta disso e vigiar. Se eu tiver que vir para cá tomar conta de aluguel social... As pessoas dizem que tem gente que está precisando e não está recebendo o aluguel. O governo do estado repassa o recurso. Mas são as secretarias municipais e a Câmara dos Vereadores que têm que cuidar da cidade.”
Pezão ainda acrescentou que a partir de fevereiro serão iniciadas as construções de moradias a serem entregues ao longo do ano. O vice-governador alertou que os governos locais também têm que cadastrar as famílias para que, depois do período do aluguel social, as pessoas possam participar do programa Minha Casa, Minha Vida e reconstruir suas histórias.
“Não vai ser em um, dois ou três anos que vamos reconstruir. Temos que reconstruir moradias constantemente, com política permanente para tirar as pessoas das áreas de risco”, disse Pezão.
Edição: Lílian Beraldo