Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Apesar do avanço das vendas de defensivos – que deve chegar a 11% de crescimento este ano em relação a 2010 –, o uso do produto diminuiu em comparação há dez anos, segundo o engenheiro agrônomo Octávio Nakano, do Departamento de Entomologia, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).
“Não é o simples fato de existir praga na lavoura que leva à aplicação de inseticidas”, disse. Hoje em dia, antes de o produtor se decidir pela aplicação de defensivos, é feito o controle da infestação por meio do sistema chamado de manejo integrado de pragas (MIP), conforme explica Nakano.
“A agricultura está passando por uma boa fase, com redução muito grande de intoxicações e de acidentes com operários. Além disso, os defensivos, hoje, são muito menos perigosos do que os que eram utilizados há dez anos”, pontuou o acadêmico.
Nakano lembra que a maior cautela contra os ataques biológicos envolve as culturas de soja, algodão e citros. No entanto, para evitar perdas nas colheitas, conforme esclareceu, os produtores contam hoje com modernas ferramentas, entre as quais o GPS (sigla em inglês de Global Positioning System), aparelho que permite acompanhar a evolução populacional de pragas pelo mapeamento da área plantada.
Outro recurso, no caso da soja, por exemplo, são as sementes geneticamente modificadas, ou transgênicas, mais resistentes aos ataques por lagartas. Segundo o agrônomo, os defensivos representam em torno de 15% dos custos de produção e, com o manejo integrado, o percentual cai para algo em torno de 12%. Na avaliação de Nakano, atualmente, há uma maior consciência ecológica, mas busca-se também reduzir o uso para baratear a produção.
Também há os investimentos por parte da indústria do setor. Em busca de fórmulas que levem a produtos mais seguros para o meio ambiente e menos tóxicos, os fabricantes de defensivos gastam, anualmente, entre 10% a 12% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento (P&D), de acordo com o gerente técnico da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Luiz Carlos Ribeiro. Ele lembrou que o maior volume de investimentos deve-se também ao fato de haver no país diferentes tipos de clima, o que favorece o surgimento de pragas, ervas daninhas, insetos e fungos.
Para Ribeiro, no entanto, falta uma política de assistência para o uso correto dos defensivos entre os pequenos produtores, o que deixa esses usuários dependentes apenas de orientações repassadas por vendedores ou representantes de cooperativas. O executivo observou ainda que, com tecnologia, o Brasil vem conseguindo aumentar a produtividade. “Estamos produzindo cada vez mais quantidade de grãos e, praticamente, sem derrubar mais árvores e, com a recuperação que o governo federal realiza em áreas degradadas, poderemos dobrar o plantio”, ponderou.
De acordo com estudos da empresa de consultoria alemã Klefmann, o Brasil aumentou sua produtividade sem ampliar a área plantada. Além disso, os estudos apontam que, por produto colhido, o país usa menos defensivos do que a Argentina, União Europeia, China, França, Rússia e o Japão, mesmo tendo maior incidência de pragas, doenças e ervas daninhas.
O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Lopes, disse que o Brasil tem liderado o crescimento da produção agrícola no mundo todo, em torno de 4% ao ano, e deverá ter uma expansão de 40% até 2050, segundo projeções da FGV e de outras instituições, como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Esse avanço, conforme analisa, implica uso crescente de defensivos. “Eu não vejo a possibilidade de substituir o inseticida agroquímico, embora tenha havido um avanço com sucesso indiscutível do controle biológico”, avalia Lopes.
Na opinião do consultor Flávio Hirata, de uma empresa de consultoria do agronegócio, os agrotóxicos considerados danosos à saúde humana e ao meio ambiente deverão ser retirados do mercado até em função do movimento que há no Brasil e no resto do mundo para que isso ocorra. “A própria Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] já baniu alguns produtos do mercado brasileiro”, adverte.
Hirata lembra que não há como manter o desenvolvimento agrícola sem o uso dos defensivos, mas pondera que essa utilização deve ser racional até porque “o agricultor coloca na ponta do lápis quanto custa o produto e o benefício”.
Edição: Lana Cristina