Vinicius Konchinski
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O gasto do governo federal com pagamento de juros da dívida pública atingiu R$ 216,9 bilhões até hoje (29). O valor foi registrado pelo Jurômetro, uma ferramente que mede o quanto do Orçamento foi comprometido com pagamento de juros. O Jurômetro foi lançado nesta terça-feira pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Baseado em dados oficiais do Banco Central e de outros órgãos do governo, o Jurômetro também aponta que investimentos poderiam ser feitos com o que já foi gasto com juros. Só este ano, poderiam ter sido construídos 166 mil quilômetros de rodovias, 3,7 milhões de casas populares ou 234 mil escolas. “Em um país em que falta dinheiro para saúde, segurança, educação e para tantas coisas, não podemos gastar mais de um trilhão com pagamento de juros”, disse o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, se referindo ao fato de que o Brasil gastou R$ 1,9 trilhão com juros de janeiro de 2002 a setembro deste ano.
Usada como um instrumento de política monetária, para controle da inflação, a taxa básica de juros do Brasil (Selic) é uma das maiores do mundo. Atualmente em 11,5% ao ano, a Selic está 4,5 pontos percentuais acima do índice de inflação oficial. Na média dos países do mundo, a taxa básica de juros é só 0,4 ponto percentual maior que a inflação. Por isso, Skaf espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central promova mais uma redução na taxa, amanhã (30), ao fim da última reunião do ano. "Não há motivos para termos uma taxa maior que 6% ou 7% ao ano", disse Skaf.
O economista-chefe da agência classificadora de riscos Austin Rating, Alex Agostini, concorda que a taxa básica de juros do Brasil é alta na comparação com a de outros países ricos ou emergentes. Contudo, ele ressalta que ela é compatível com o momento da economia brasileira. Segundo ele, o Brasil já demonstrou que ainda não tem capacidade de conciliar altas taxas de crescimento com preços controlados. Por isso, os juros são importantes para equilibrar essa conta. “Sem juros, crescemos muito e não conseguimos segurar a demanda. Isso faz com que a inflação aumente muito”, explicou.
Ele disse também que, por mais que a economia brasileira atravesse um momento favorável, a estabilidade monetária do país ainda é recente. Isso, junto com a dívida alta que o país precisa rolar, faz com que o Brasil precise manter uma taxa de juros elevada para prolongar o prazo de pagamento de seus débitos. “Somos estáveis há dez anos. Isso ainda é muito pouco”, disse o economista.
Para Agostini, se o Brasil mantiver sólidos os fundamentos de sua economia, o país deve conseguir reduzir sua taxa básica de juros a níveis internacionais dentro de dez anos. "Aí sim, teremos provado que nossa economia é estável."
Edição: Vinicius Doria
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