Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Computadores velhos têm destino certo no Complexo do Alemão, zona norte do Rio. Desde junho, 120 alunos da área pacificada, que abriga treze favelas e mais de 80 mil moradores, estão reaproveitando lixo eletrônico para produzir computadores que funcionem. As máquinas são doadas a entidades sem fins lucrativos e órgãos públicos instalados nas comunidades.
O projeto Fábrica Verde é uma iniciativa do governo estadual para reduzir o volume de resíduos sólidos descartados e promover a inclusão social de jovens e adultos do Complexo do Alemão, por meio de cursos de capacitação em montagem e manutenção de microcomputadores.
Hoje (25), o secretário do Ambiente, Carlos Minc, esteve no local para lançar a segunda etapa do projeto, que prevê novas turmas e a contratação dos 11 alunos que apresentarem o melhor desempenho ao fim dos três meses de curso, com remuneração de um salário mínimo.
“Os computadores velhos têm cádmio, zinco, cobre. Poluem o meio ambiente. É um problema para as empresas e, aqui, nós podemos resolver esse problema. Até o fim de 2013, vamos qualificar 720 jovens, além de reaproveitar, pelo menos, 2 mil máquinas, cerca de 80 por mês”.
Minc informou que serão criados seis telecentros (com acesso à internet gratuita), equipados com computadores reciclados. O secretário fez um apelo às empresas para que doem máquinas ao projeto que, até o momento, já recebeu doações do Instituto Vital Brazil, do Instituto Estadual do Ambiente e da Justiça do Trabalho.
A coordenadora pedagógica do projeto, Jussara Carvalho, conhecida como Bizuca pelos alunos e pela comunidade da Vila Cruzeiro, onde mora, explicou que a fábrica tem múltiplos papéis dentro do Complexo do Alemão, uma das regiões mais carentes do Rio e que ainda sofre com a forte influência dos traficantes de drogas, apesar da ocupação da Polícia Militar e das Forças Armadas.
“Damos aula sobre cidadania e meio ambiente todas às sextas-feiras. fazemos palestras e cursos com nossos parceiros. Também falamos sobre doenças sexualmente transmissíveis e orientamos os jovens a aproveitar o tempo ocioso para não ficar 'de bobeira' na comunidade”.
Damião Pereira de Jesus, 24 anos, é aluno do projeto e ajudou a pintar o edifício que abriga a Fábrica Verde. Além de montar e desmontar computadores, ele e outros alunos aproveitam a sucata para fazer artesanato, que decora as salas de aula. “Amo trabalhar aqui. A gente utiliza as peças condenadas para fazer artes plásticas. Este portarretrato aqui, por exemplo, foi feito com a peça de um gabinete de computador e pastilhas”, explica o rapaz enquanto apresenta os trabalhos na sala de artes, cujas paredes foram grafitadas pelos próprios alunos.
Edição: Vinicius Doria