Isabela Vieira*
Enviada Especial
Caxambu (MG) - A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) quer que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação inclua estudantes da área no programa de bolsas Ciência sem Fronteiras, lançado em julho. Gerenciada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a inciativa concederá 75 mil bolsas de estudos no exterior nos próximos quatro anos nas área de engenharia, tecnologia e biologia.
Durante entrevista na abertura do 35º encontro anual da instituição, ontem (24) à noite, o presidente da Anpocs, Marcos Costa Lima, disse que espera negociar um percentual de vagas o mais breve possível com o CNPq. Ele aguarda uma resposta do conselho a uma carta protocolada pela instituição no dia 29 de setembro, reconhecendo a importância do Ciência sem Fronteiras, mas cobrando a inclusão de alunos da área no programa de bolsas de estudos.
“Hoje, em todas as áreas das ciências sociais, há grupos que trabalham com o desenvolvimento da inovação tecnológica, com fármacos, com novas energias ou com o impacto de problemas ambientais. Tudo isso faz parte da inovação”, ressaltou Lima, que preferiu não estimar o percentual de vagas para não prejudicar a negociação com o conselho.
Segundo o presidente da Anpocs, a instituição quer também negociar com o CNPq a inclusão de universidades da América Latina no programa, para que as bolsas não fiquem restritas a instituições nos Estados Unidos e na Europa. Para ele, seria uma injustiça não contemplar a região. “Temos universidades excepcionais na Argentina, na Venezuela, no Chile e no México”, destacou.
Para a presidenta da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Bela Feldman Bianco, que assinou a carta da Anpocs, é uma contradição pensar em desenvolvimento e enfrentamento à miséria sem as ciências sociais. A professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) ressaltou que o país desenvolve conhecimento sobre temas emergentes como novas tecnologias.
O presidente da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), Fabiano Santos, acrescentou que, com a exclusão das ciências sociais do programa de bolsas, os brasileiros também perdem a chance de contribuir com a política internacional. Durante abertura do evento da Anpocs, ele disse à Agência Brasil que os intelectuais do país têm importantes pesquisas, que devem ser compartilhadas.
“Do ponto de vista do que o mundo está vivendo hoje em termos de transformação do capitalismo, de transformação da política, as instituições estão se redefinindo e os cientistas sociais têm muito a falar. Principalmente os brasileiros, no que diz respeito à inclusão social, à participação política e à definição dos contornos da própria democracia e isso tem um nome: tecnologia política."
Além da ABA e da ABCP, assinaram a carta dirigida ao CNPq a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) e Associação Brasileira de Relações Internacionais (Abri).
As discussões do 35º Encontro Anual da Anpocs começam hoje (25) e se estendem até a
sexta-feira (28).
Em julho, durante a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Goiânia, representantes da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do CNPq explicaram à Agência Brasil que o programa Ciência sem Fronteiras se destina à formação de recursos humanos para as áreas tecnológicas, como o caso das engenharias. O governo avalia que a maior oferta de bolsas para pesquisadores das áreas exatas também favorece os de humanas, como ciências sociais, que terão garantidas as linhas tradicionais de financiamento.
A repórter viajou a convite da organização do evento
*Colaborou Gilberto Costa // Edição: Juliana Andrade // A matéria foi ampliada às 9h19 para acréscimo de informação