Mônica Yanakiew
Correspondente da EBC na Argentina
Buenos Aires – Sem clima de festa, nem cartazes nas ruas, os sete candidatos à Presidência da Argentina encerram suas campanhas nesta quarta-feira (19). Os argentinos já sabem, há dois meses, que a reeleição da presidenta Cristina Kirchner está praticamente assegurada.
As recentes pesquisas de opinião indicam que ela superará o desempenho das eleições primárias de 14 de agosto, quando não só obteve a metade dos votos, como também, uma diferença de mais de 30 pontos percentuais em relação ao segundo colocado, garantindo a vitória no primeiro turno. Para ser eleito no primeiro turno, basta ter 40% dos votos válidos e uma vantagem de 10% em relação aos votos do segundo mais votado.
A verdadeira disputa, nas eleições de domingo (23), será pelo segundo lugar. Desde agosto, a popularidade do governador de Santa Fé, Hermes Binner – candidato da Frente Ampla Progressista - tem crescido. Nas primárias, ele foi o quarto colocado, atrás de Ricardo Alfonsin (filho do ex-presidente Raul Alfonsin) e do ex-presidente Eduardo Duhalde, que praticamente empataram com 12% dos votos. Mas as recentes pesquisas de opinião indicam que ele pode ultrapassar ambos.
Dos sete os candidatos em disputa, três são originários do Partido Justicialista (PJ), conhecido como Peronista, que desde a redemocratização do país, em 1983, se reveza no poder com a União Cívica Radical (UCR), de Ricardo Alfonsin. Divididos, os candidatos peronistas criaram legendas próprias: Cristina Kirchner é candidata da Frente pela Vitória; Eduardo Duhalde disputa a eleição pelo Partido União Popular e o governador de San Luis, Alberto Rodriguez Saa, pelo Partido Peronismo Federal. Se Binner conquistar, de fato, o segundo lugar, será a zebra da eleição.
No domingo, os 28,6 milhões de eleitores argentinos também votarão para eleger 130 dos 257 deputados federais e 24 dos 72 senadores, alem de governadores, prefeitos e deputados estaduais. “Não ha clima de campanha porque o resultado é conhecido: Cristina Kirchner será reeleita”, disse à Agencia Brasil o analista político Hector Stupenengo. “O motivo da popularidade dela pode ser resumido em poucas palavras: mais emprego e mais dinheiro no bolso dos argentinos. Os argentinos estão votando pela continuidade dessa política”.
Primeira mulher eleita presidenta da Argentina, Cristina Kirchner sucedeu o marido, Nestor Kirchner, em 2007. O casal assumiu o poder na Argentina quando o país saía da pior crise financeira e política da historia, com anos de recessão e altos índices de desemprego, que levaram os argentinos às ruas em dezembro de 2001 e derrubaram o governo de Fernando de la Rua. Incapaz de cumprir os compromissos assumidos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Argentina decretou moratória da dívida e desvalorizou o peso (que, durante dez anos, mantivera o mesmo valor do dólar). Eduardo Duhalde assumiu a presidência interinamente, para fazer a transição e convocar novas eleições em 2003. O candidato dele, Néstor Kirchner, ganhou com apenas 22% dos votos.
Desde então, a economia do país vem crescendo, graças, também, aos altos preços das commodities (produtos primários cotados internacionalmente, como minérios e grãos). Durante a gestão de Cristina Kirchner, o gasto publico aumentou, assim como o financiamento de programas sociais. Os opositores criticam o governo, argumentando que a inflação real gira em torno de 20% ao ano, mais que o dobro da inflação oficial (9%). Mas, segundo Stupenengo, como os sindicatos negociam os aumentos salariais com base na inflação real, o poder aquisitivo dos argentinos foi mantido e o consumo aumentou.
“Existem apenas seis países no mundo com mais de 20% de inflação anual e a Argentina é um deles”, disse o analista político Rosendo Fraga à Agencia Brasil. “Mas também é o único dos seis que cresce muito por ano. Se a economia continua crescendo a um ritmo de 8% ao ano, os efeitos negativos da inflação são atenuados”, explicou
Edição: Vinicius Doria