Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Manifestantes contrários à construção de um novo bairro em Brasília, localizado em uma área reivindicada como santuário por índios de quatro etnias, denunciam que foram agredidos por seguranças contratados pelas construtoras responsáveis pelas obras no Setor Noroeste. Ao todo, 27 índios das etnias Fulni-ô, Kariri-Xocó, Tuxá e Tupinambá vivem no local, que alegam ser um santuário.
Pelo menos seis pessoas disseram já ter sido espancadas pelos seguranças. Só hoje (14), duas pessoas alegaram ter sofrido espancamento dos seguranças. Eles protestavam contra o fechamento da via de acesso ao suposto santuário. Augusto Dauster, 23, foi um deles. Estudante de jornalismo, está participando das manifestações desde segunda-feira (10).
“Viemos aqui tentar parar as máquinas que avançaram além da área permitida e invadiram as terras que são dos índios. Enquanto estávamos acorrentando uma das máquinas, apareceu outra. Ao tentarmos pará-la, o sujeito tentou nos acertar com a pá [da escavadeira]. Em seguida vieram quatro seguranças para me imobilizar e tomar minha câmera”, relatou o estudante enquanto mostrava as marcas e os arranhões deixados pelos agressores.
A segunda vítima foi Beatriz Moreira, de 17 anos. Ele está há quase duas semanas no local. “Fiquei sabendo por uns amigos que a empresa invadiu a área porque sabe que o laudo antropológico que dará a posse da área aos índios está para sair. Eles querem ganhar na marra mesmo”, disse Beatriz.
“Depois de pararmos o primeiro trator, corri em direção ao segundo. Ao tentar colocar a mão nele, levei uma pancada de cassetete de um segurança. Devolvi a agressão com um chute e acabei apanhando mais. Esse mesmo segurança já havia agredido duas outras meninas ontem (quinta-feira)”, disse Beatriz.
Ela se referia a Ana Beatriz, 19, estudante de serviço social na Universidade de Brasília (UnB). “Eu frequento isso aqui há muito tempo. Ontem (quinta-feira), ao ver os seguranças agredindo um amigo, tentei pedir calma aos seguranças. Acabei sendo agredida a socos, fui derrubada e chutada. Todos os agressores estavam uniformizados. Para piorar, fomos afastados pela Polícia Militar no momento em que estávamos identificando eles, que acabaram fugindo”, disse a estudante da UnB.
“De fato essa invasão [das construtoras] está relacionada à entrega do laudo. Mas infelizmente a Funai [Fundação Nacional do Índio] não está deixando o caso avançar, mesmo tendo recebido ordens judiciais [emitidas pela juíza Clara Mota] para concluir o processo”, disse o índio Santxiê Fulni-ô Tapuia, uma das lideranças indígenas.
Segundo ele, o local é habitado por índios desde 1957. “Viemos para ajudar na construção de Brasília. Esse local era uma das rotas de fuga, quando houve o massacre dos bandeirantes”.
Os índios reivindicam 50 hectares de terra para a plantação de um roçado tradicional e para a produção de artesanato. “Além disso somos os únicos preocupados em manter viva a vegetação do Cerrado local”, disse Santxiê.
Já a empresa Brasal Incorporações garante ter alvará para a construção, obtido em outubro de 2009 após a compra da área, por meio de licitação promovida pela Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). No final da manhã, o procurador-geral da Funai, Antônio Salmeirão, foi ao local e se reuniu com as partes. Ficou então decidida a paralisação das obras durante o final de semana, enquanto uma solução é encontrada.
“O governo brasileiro tem de encarar de frente o problema dos mais de 150 processos envolvendo índios nas áreas urbanas. Viemos para cá pressionados. Na época, aqui era uma área rural. Estamos aguardando o posicionamento definitivo da Funai sobre o caso. Queremos que ela defenda o nosso interesse, e não o das construtoras”, acrescentou Awa Mirim Tupinambá, outra liderança indígena.
Criticada por ter sido omissa nos momentos de agressão pelos seguranças contratados pelas empresas, o major Meirelles, da Polícia Militar, disse que o caso é da alçada federal, já que envolve índios. “Estamos aqui apenas tentando garantir a segurança de todos”, declarou o policial. “Queremos serenar os ânimos de todos”, completou.
Em nota, a Brasal Incorporações informou que lamenta os conflitos ocorridos, mas acrescenta que continuará a limpeza do terreno adquirido.
A Agência Brasil entrou em contato com a Superintendência da Polícia Federal em Brasília, mas foi informada que, até o início da tarde, nenhuma solicitação para que entre no caso foi feita, nem pelo Ministério da Justiça, nem pela Funai.
Edição: Fernando Fraga