Primeiros sinais de Alzheimer são ignorados pela maioria das pessoas, diz neurologista

21/09/2011 - 9h35

Carolina Pimentel*
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Estima-se que 36 milhões de pessoas em todo o mundo sofram de Alzheimer, o tipo de demência mais comum a afetar o cérebro. No Brasil, cerca de 1,2 milhão de pessoas têm a doença.

Um relatório divulgado, na semana passada, pela organização Alzheimer´s Disease International, que reúne entidades em vários países, revelou um dado preocupante. Mais de 75% das pessoas que vivem com a doença no mundo não foram diagnosticadas.

Para o neurologista do Instituto da Memória da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Rodrigo Schultz, o diagnóstico da doença ocorre tardiamente porque a maioria ignora os primeiros sinais da doença. “Tanto a família quanto o médico negligenciam, de forma involuntária, as queixas das pessoas”, disse.

Segundo ele, diferentemente de outras doenças, o Alzheimer não é identificado com um único exame, mas a partir de uma análise do histórico médico do paciente e uma avaliação neurológica detalhada.

O primeiro sintoma é a dificuldade de lembrar fatos recentes, como o local onde está um objeto de uso frequente. Segundo o médico, cerca de 30% dos casos são identificados na fase intermediária, quando o doente encontra dificuldade em fazer atividades rotineiras, o que é percebido por amigos e parentes. “A dona de casa, por exemplo, que se atrapalha na cozinha ou com as finanças”, explica Schultz, membro da Academia Brasileira de Neurologia.  

Com o passar do tempo, a doença progride e os sintomas pioram. A perda de memória aumenta e o paciente apresenta desorientação, mudanças no humor e deixa de reconhecer pessoas próximas. No estágio final, a pessoa com a doença não consegue andar, falar e comer  e enfrenta complicações, como fraturas de membros, por causa de quedas, e feridas pelo corpo, por ficar longos períodos deitada. A terceira idade é a faixa etária com o maior número de registros da doença.  

O alto número de pacientes que abandonam o tratamento também preocupa os especialistas. Estima-se que esse número pode chegar a 70% dos casos e um dos principais motivos é o alto custo dos medicamentos. Uma alternativa para solucionar essa questão são os medicamentos genéricos. Atualmente, os brasileiros podem contar com remédios de qualidade e eficácia comprovada para todas as fases da doença.

Cuidar de um portador de Alzheimer também afeta a rotina da família. Administrar trabalho, filhos, estudos e o avanço da doença resulta em elevada pressão psicológica sobre o responsável em cuidar do parente doente.

A Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz) no Rio de Janeiro oferece curso com orientações sobre como cuidar dos parentes acometidos pela doença e dar-lhes melhor qualidade de vida.

A presidenta da associação, Eliana Faria, alerta que o aumento de casos da doença nos próximos anos vai exigir a formação de cuidadores capacitados para atender os idosos.  “Quanto mais pessoas apresentam a doença, há menos lugares com atendimento especializado”, disse.

Em alguns estados, associações promovem hoje (21) atividades para esclarecer sobre os sintomas doença por causa do Dia Mundial do Alzheimer.

Não existe cura para a doença. Os remédios e o tratamento conseguem apenas protelar o avanço e aliviar os sintomas. O paciente pode viver, em média, de dez a 12 anos com a doença. A sobrevida, segundo Schultz, está relacionada a fatores genéticos e ao estilo de vida do portador, como a prática de exercícios físicos e a predominância de atividade intelectual, como a leitura.

 

 

* A matéria foi ampliada às 11h     //   Edição: Lílian Beraldo