Exposição destaca trabalhos artísticos de pessoas com deficiência no Rio de Janeiro

21/09/2011 - 18h28

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Tetraplégico aos 21 anos, ao bater a cabeça durante mergulho em uma cachoeira, o designer gráfico Marcelo da Cunha viu sua vida mudar radicalmente de um dia para o outro. Impedido de usar as mãos, ele acabou conquistando o seu lugar na sociedade ao descobrir uma nova vocação: a pintura com a boca e os pés, depois de tornar-se membro da Associação dos Pintores com a Boca e os Pés (APBP).

A entidade foi criada em 1956 por Erich Stegmann e possibilita aos mais de 770 artistas filiados de 70 países, sendo 46 do Brasil, a possibilidade de ganharem o seu próprio sustento, sem depender da caridade.

Marcelo é um dos três pintores com a boca e os pés do Rio de Janeiro que estão participando a partir de hoje (21) da exposição Viva com Arte, promovida pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), em comemoração ao Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. A mostra está franqueada ao público até o próximo dia 30.

Marcelo Cunha disse à Agência Brasil que a exposição será o ponto de partida de uma campanha que será desenvolvida posteriormente nas escolas públicas sobre o potencial das pessoas com deficiências e sua inclusão no mercado de trabalho. Para ele, ingressar na APBP após o acidente fez toda a diferença. A entidade permite “aos artistas brasileiros que fazem parte dela direcionar a sua vida e viver por meio da arte. Muitos acabam desenvolvendo outras atividades. Eu sou escritor e palestrante”, disse.

O Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência foi comemorado também pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into), do Ministério da Saúde. “As pessoas com deficiência têm ficado, ao longo do tempo, meio esquecidas. É importante que a gente pontue isso e coloque alguns holofotes nessa situação”, declarou a chefe da Unidade de Reabilitação do Into, Eliane Machado Araújo.

A unidade trabalha com pacientes que apresentam limitações funcionais causadas por traumas, entre os quais pessoas amputadas; com traumatismo raquimedular (lesão na coluna vertebral), que ficaram paraplégicas; crianças com paralisia cerebral que têm problemas de controle dos movimentos, entre outros. O Into fornece diversos tipos de órteses que auxiliam na locomoção e na função das mãos e dos membros superiores a pacientes amputados.

Até o fim deste mês, o Into passará a funcionar no antigo prédio do Jornal do Brasil, em São Cristóvão, na capital fluminense, que foi reformado e transformado em uma unidade hospitalar. A mudança foi iniciada há um mês, com a parte ambulatorial.

Eliane Machado disse que, no “velho” Into, a meta era atender em média 200 pacientes por dia. Na nova sede, “isso deve ser, pelo menos, dobrado. A gente espera atender 400 pacientes por dias na reabilitação”. Para isso, segundo ele, será necessário elevar também o número de funcionários que atendem na enfermaria e no ambulatório. Hoje, a equipe da Unidade de Reabilitação conta com 90 profissionais e a previsão é atingir 200 funcionários, no médio e longo prazo.

Segundo a especialista do Into, a reabilitação é o caminho que permite o retorno dos pacientes com limitações físicas à vida funcional. “É por meio da reabilitação que ele se reinsere, que vai poder entender a vida com essa limitação e retornar com tranquilidade”.

 

Edição: Aécio Amado