Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro- O lixo produzido em portos brasileiros deve ganhar uma destinação adequada nos próximos três anos e poderá até ser reaproveitado. É o que pretende a Secretaria de Portos, que vai levantar quais são os resíduos e efluentes de 22 terminais no país. O órgão não descarta dar um desconto nas taxas para navios que deixarem o lixo no porto, em vez de despejá-lo no mar.
As medidas serão estudas em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mais 11 universidades federais do país por meio do Programa de Conformidade do Gerenciamento de Resíduos e Efluentes. A SEP investirá R$ 125 milhões no projeto, que será dividido em três fases, desde o levantamento até as medidas para redução do lixo.
Segundo o diretor de Revitalização e Modernização da secretaria, Antônio Maurício Ferreira, os portos produzem resíduos variados. Parte são restos de grãos, carvão e minério, além do lixo das embarcações e do esgoto. Mal acondicionados, esses materiais atraem animais nocivos como pombos, ratos e mosquitos transmissores de dengue, que também serão pesquisados.
Para o professor da UFRJ responsável pelo levantamento da SEP, Marcos Freitas, é preciso pensar o impacto dos portos nas cidades, dando solução sustentável para o lixo e combatendo os insetos. Por isso, o programa vai identificar em cada terminal possibilidades de reutilização dos resíduos. "Podemos pensar em portos como autogeradores de energia."
Em 2012, também serão avaliadas soluções de gerenciamento e legislação com base em experiências internacionais, como a da Bélgica. No porto da Antuérpia, o país dá desconto na taxa de ancoragem para navios que deixam o lixo lá."Com a oportunidade financeira, [os navios] serão motivados a depositar [o lixo] para tratamento", disse Antônio Maurício Ferreira.
Outro objetivo é melhorar as condições de trabalho nos terminais. Do estado do Rio, onde serão estudados os portos da capital e de Itaguaí, na região metropolitana, o Sindicato dos Portuários do denuncia que muitas vezes as condições são insalubres. "Trabalhamos perto de dejetos, cachorros mortos, lixo, tudo o que é bicho e poluição", disse o presidente da entidade, Sérgio Giannetto.
Segundo o professor da UFRJ, a pesquisa também ajudará a apontar problemas nas embarcações e impedir a entrada de vírus e espécies invasoras no país. Marcos Freitas lembra que o mexilhão dourado, molusco trazido na água de lastros de navios da Ásia, provocou desequilíbrio ecológico e até problemas nas turbinas da Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Paraná.
Edição: João Carlos Rodrigues