Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília - Um dia após a Justiça angolana condenar 18 jovens presos durante protestos contra o presidente José Eduardo dos Santos, o primeiro-secretário do Movimento Popular de Libertação da Angola (MPLA), Ernesto Muangala, declarou que o partido governista apoia iniciativas da sociedade civil.
“Nosso partido, em seu programa, considera a liberdade de associação como uma condição indispensável à democracia na busca de soluções concretas para os problemas que dizem respeito à vida das comunidades”, salientou Muangala, segundo a agência pública de notícias Angola Press. Além de primeiro-secretário do partido, Muangala também é governador do estado de Luanda Norte.
Ainda de acordo com a agência, Muangala reconheceu que seu partido – o mesmo do presidente Santos – tem de ser mais imaginativo para inspirar e apoiar as iniciativas da sociedade civil angolana. O primeiro-secretário da legenda destacou que, além de aperfeiçoar os mecanismos de participação popular na vida partidária, o MPLA defende que o Estado reconheça o valor insubstituível da iniciativa cidadã, apoiando e estimulando as diversas formas de engajamento na reconstrução e desenvolvimento de angola.
O grupo de 21 jovens julgados ontem (12) foi preso no último dia 3. O julgamento, cercado por um forte esquema de segurança, teve início na última quinta-feira (8). A Polícia Nacional justificou as prisões alegando que os manifestantes promoveram a desordem pública ao desrespeitar os pré-requisitos impostos pelas autoridades que autorizaram a realização da marcha.
Durante o primeiro dia de julgamento, a Polícia Nacional voltou a reprimir protestos registrados em vários pontos da capital e mais manifestantes foram presos. Entre os detidos estava o líder da juventude do partido de oposição União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita), Mfuka Muzemba.
Para hoje (13) está previsto o início do julgamento de mais 30 jovens presos por fazerem protesto de solidariedade ao primeiro grupo.
Santos é, hoje, o líder africano há mais tempo no cargo. Ele está na presidência do país desde 1979. Desde abril de 2002, quando a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita) e o MPLA puseram fim à guerra civil que já durava 27 anos e tirou a vida de centenas de milhares de pessoas, houve apenas uma eleição legislativa, em 2008. Novas eleições estão previstas para o ano que vem.
Os jovens angolanos exigem que José Eduardo dos Santos deixe a Presidência do país e pedem a instalação de um regime democrático.
Ontem (12), em entrevista exclusiva à Agência Brasil, o ministro da Defesa de Angola, Candido Van-Dúnem, disse que o governo não teme uma onda de protestos. Ele negou excessos na prisão dos jovens, frisando que, em seu país, as manifestações são permitidas, desde que respeitem a legislação. “Qualquer ação [punitiva] que possa decorrer de desacatos protagonizados por indivíduos ou grupos de cidadãos encontra respaldo na lei.”
Desde o início deste ano, uma série de protestos tem tomado países como a Líbia, a Tunísia, a Síria, o Iêmen e o Egito. Algumas dessas manifestações levaram à queda de líderes como Hosni Mubarak (Egito) e Zine El Abidine Ben Ali (Tunísia) – que se perpetuavam há décadas no poder.
Edição: Lílian Beraldo