Da BBC Brasil
Brasília – O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou para o risco de retirada de investimentos feitos em países emergentes caso haja piora das condições econômicas globais. A conclusão consta do Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global, divulgado hoje (13) em Washington e publicado com o título em inglês Global Financial Stability Report. O FMI advertiu que investidores que aproveitaram a crise econômica mundial de 2008 para aplicar em países emergentes podem, em uma tendência de reversão caso os fundamentos econômicos mudem, retirar os recursos no caso de novo choque econômico mundial.
“No entanto, com muitos investidores de primeira viagem aproveitando as vantagens do desempenho econômico relativamente melhor desses países [emergentes], há o risco de reversão se os fundamentos mudarem”, diz o documento. “No caso de choques maiores, o impacto dessa reversão pode ter a mesma magnitude que a saída de fluxos registrada durante a crise financeira [de 2008].”
Segundo o FMI, a magnitude da recente retirada de investimentos em fundos de ativos e títulos nos mercados emergentes após o rebaixamento da dívida pública dos Estados Unidos e do agravamento da crise na União Europeia comprova as conclusões do relatório.
Após a crise mundial, muitos emergentes, como o Brasil, que já haviam sido menos afetados pela turbulência do que economias mais avançadas, registraram uma recuperação mais rápida. Esse cenário atraiu um grande fluxo de investimentos estrangeiros para esses países.
Apesar de os investidores terem sido atraídos pelas altas taxas de juros dos países emergentes, o FMI avalia que esse fator é levado em consideração apenas pelos aplicadores de curto prazo. No caso de investidores institucionais de longo prazo, a decisão de onde aplicar os ativos é baseada principalmente em boas previsões de crescimento e redução de riscos nos países receptores. “A diferença nas taxas de juros entre os países cumpre um papel secundário”, registra o FMI.
Em outro capítulo do relatório, o FMI sugere um conjunto de indicadores que poderiam alertar as autoridades sobre a iminência de dificuldades financeiras. No caso do crédito, o FMI afirma que a informação deve ser complementada por outros indicadores.
“Apesar de o crédito aumentar, tanto graças a um choque positivo [um estímulo saudável da economia real mediante aumentos de produtividade] quanto a um choque negativo [como uma escalada de preços de ativos e relaxamento nas normas creditícias aplicadas pelos bancos], o aumento de crédito e a persistência desse aumento e a redução do índice de capitalização dos bancos são bem mais pronunciados no caso de choques negativos”, diz o FMI.
O organismo internacional diz ainda que, no caso das economias emergentes, a apreciação da taxa de câmbio real “parece ser um fator especialmente relevante”. O relatório completo será divulgado apenas na próxima semana, durante a reunião anual do FMI e do Banco Mundial.